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Rodrigo Mattos

Corinthians terá renda reduzida no Itaquerão por 8 anos, e depois alívio

rodrigomattos

04/04/2014 06h00

O Corinthians terá renda reduzida e aperto financeiro no Itaquerão até o pagamento de metade de sua dívida, período que deve levar em torno de oito anos. Depois disso, haverá um alívio para o clube e provável aumento das receitas. Isso fica claro pelas condições do contrato feito com a Caixa Econômica Federal para viabilizar o empréstimo do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

O blog teve acesso aos acordos entre a Arena Itaquera e o clube, assinados em novembro de 2013. Esta é a terceira reportagem sobre o assunto.

Pelo contrato, todas as rendas do estádio, incluindo bilheteria, são destinadas prioritariamente a uma conta para pagar o empréstimo de R$ 400 milhões feito pelo BNDES. Com os encargos da Caixa, mais os juros, as taxas são de 8,5% por ano pela cotação atual da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo). Ou seja, a estimativa é de que o clube tenha que pagar em torno de R$ 60 milhões por ano no início.

Fora isso, os documentos do fundo do estádio estabelecem que a construtora Odebrecht é a segunda na ordem de prioridades para receber rendas do estádio. Até porque também emprestou dinheiro para levanta-lo. Ainda tem que se pagar os custos de manutenção, estimados em R$ 30 milhões.

Se houver sobra dessas mordidas, a renda seria destinada ao Corinthians. Mas, pelo contrato com a Caixa, fica estabelecido que 50% da receita que seria distribuída para o clube deve ser destinada a uma conta reserva para apressar o pagamento do financiamento. Isso ocorre já agora no período de carência do empréstimo, que dura até junho de 2015.

Essa mordida de metade das rendas do Corinthians continua após o início do pagamento do empréstimo. Mas dura até a dívida cair a um patamar abaixo de R$ 200 milhões. É o que fica claro na cláusula nona, itens XVII e XVIII, sobre as obrigações da Arena Itaquera.

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Veja no contrato como o Corinthians tem que reservar parte das suas rendas no estádio para conta reserva para pagamento da dívida

Veja no contrato como o Corinthians tem que reservar parte das suas rendas no estádio para conta reserva para pagamento da dívida

No programa "Bola da Vez", da ESPN Brasil, Andrés Sanchez confirmou que o clube ficava com 50% da receita que sobrasse do pagamento das dívidas.

Há um detalhe: as rendas obtidas com direitos sobre o nome (naming rights) serão integralmente para pagar o empréstimo. Não vão para o caixa do clube até que a dívida esteja quitada.

Bom, para o pagamento do débito, a tabela adotada no financiamento do Corinthians é descrescente e flutua de acordo com TJLP (Taxa de Juros a Longo Prazo). Ou seja, as prestações começam mais altas e vão ficando mais baixas. Em uma simulação da fórmula adotada, o clube deve levar em torno de 80 meses para baixar dos R$ 200 milhões a sua dívida. Somado esse período a mais um ano de carência, serão praticamente oito anos para se livrar desta mordida.

Só que a diretoria corintiana terá de levar em conta também pagamentos a serem feitos a Odebrecht, já que a obra custará R$ 1,15 bilhão, nas palavras de Andrés Sanchez. Ou seja, também será importante saber quando a construtora, de fato, deixará o negócio com todos os seus débitos quitados, o que é difícil determinar atualmente.

Pelo contrato, quando a Odebrecht sair da sociedade da Arena Itaquera, o Corinthians pode passar a ter até 90% das receitas restantes do seu estádio. Mas, para isso, tem que atender um índice de cobertura da dívida em uma fórmula que leva em conta a receita líquida do estádio e as prestações do débito.

De novo, quanto mais tempo passar, as parcelas serão menores e será mais fácil atingir esse índice. Basta dizer que, por volta do meio do financiamento, que tem total de 161 meses, os pagamentos anuais do clube já devem cair para menos de R$ 50 milhões por ano.

Tudo dependerá também da receita total do estádio. Andrés Sanchez tem feito contas de que consegue pagar todas as dívidas com arrecadação de bilheteria. Nas projeções do clube, há uma estimativa de até R$ 290 milhões anuais com todas as receitas. Mas há contas mais pessimistas dentro do clube que falam em R$ 100 milhões.

É fato que, pelo contrato, o futuro de receita de bilheteria do Corinthians estará atrelado ao Itaquerão. Não há volta. Pelo acordo, o clube é obrigado a jogar 90% das suas partidas como mandante no estádio.

Há uma previsão de que não entram nesta conta partidas tiradas do estádio por conta de punições da Conmebol ou da Justiça Desportiva. Mas, mesmo quando atuar em outras arenas, o Corinthians destina a renda para pagar a dívida. Veja no trecho abaixo do contrato:

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Por meio de sua assessoria, o blog questionou Andrés Sanchez para saber sobre as projeções atuais de receitas do estádio, assim como seu efeito para as finanças do clube, mas ele não foi encontrado. Diretores do Corinthians também não responderam ligações para falar sobre o assunto.

Ressalte-se que, até o momento, nenhuma das outras rendas corintianas, direitos de transmissão e patrocínio, são afetadas pelo estádio. A bilheteria representa entre R$ 30 milhões e R$ 35 milhões da receita anual do Corinthians nos últimos anos. Isso significa entre 10% e 15% do total. Mas mesmo assim, quando há problemas com falta dessas rendas, o clube costuma sofrer.

( Para seguir o blog no Twitter: @_rodrigomattos_)

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.