Governo privilegia piores escolas na doação de ingressos da Copa
Com uma carga doada pela Fifa, o governo federal distribuiu 48 mil ingressos para jogos da Copa-2014, gratuitamente, para alunos de escolas públicos. Esses bilhetes foram sorteados. Só que um dos critérios do sorteio privilegiou as escolas com piores índices educacionais, deixando de fora boa parte daquelas que tinham obtido melhores resultados.
A Fifa tinha doado 50 mil ingressos do Mundial em diversos jogos para o governo federal no ano passado. Há até bilhetes para a final no Maracanã. Então, as autoridades brasileiras decidiram dar 2 mil para indígenas e o restante para alunos de escolas públicas. Seriam 24 mil para eles, com direito a um acompanhante para cada.
No início de maio, o governo publicou o regulamento do sorteio dos bilhetes. Havia duas regras básicas: a escola tinha que estar em uma das 12 cidades-sede do Mundial e tinha de fazer parte do programa "Mais Educação", do MEC (Ministério da Educação e Cultura). Trata-se de um projeto que destina verbas para aumentar o tempo de estudo em escolas, mirando que se tornem integrais.
O foco do "Mais Educação" são escolas com Ideb (Indice de Desenvolvimento da Educação Básica) mais baixo, que estão em áreas de vulnerabilidade social, ou em cidades menores. Explica-se: o Ideb é o instrumento do governo para medir a qualidade do ensino de uma instituição, e avaliar sua evolução.
"O Mais Educação atende prioritariamente escolas com essas características que você ressaltou, além de escolas com estudantes do Bolsa Família. Existe repasse de verba por meio do Programa Dinheiro Direto na Escola. As adesões deste ano estão abertas", afirmou o Ministério da Educação, que disse ser impossível verificar se aumentou a adesão por conta dos ingressos da Copa.
Para verificar se de fato as piores escolas foram privilegiadas, o blog fez um levantamento nos resultados de 4a e 5a séries em todas as 43 sorteadas no município de São Paulo – foram 900 no país todo. A análise mostra que a maioria das instituições que ganhou ingressos está abaixo do Ideb médio para a capital paulista, consideradas apenas as públicas, claro.
Vamos aos números. A média paulistana do índice é de 5,1. Do total, 32 escolas estavam abaixo desse número, duas estavam exatamente na média, e só sete ultrapassavam o patamar – não foi encontrado o resultado para duas delas. Das 43 escolas, apenas uma atingiu o nível 6,0, que é referência de excelência.
Mais, 22 das escolas sorteadas ficaram abaixo das metas de melhoria propostas pelo ministério dentro do programa. E 19 delas tiveram quedas no Ideb no teste de 2011 em relação ao anterior.
O blog questionou o ministério se não seria uma injustiça excluir do sorteio boa parte das escolas públicas que têm rendimento acima da média, privilegiando as que tiveram pior rendimento. "Essa é uma análise sua. O critério foi definido pelo MEC, em parceria com outros ministérios", respondeu o MEC.
Lembre-se: o investimento em educação é uma das maiores bandeiras dos movimentos de protestos contra a Copa-2014. E a melhoria do setor passa justamente por incentivar a melhoria do desempenho dos alunos.
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