Sistema da Fifa favorece desvio de ingressos da Copa para cambistas

O sistema de distribuição de ingressos da Copa-2014 favorece desvio para cambistas ao tirar bilhetes da venda para o público em geral e dá-los a cartolas e parceiros. A máfia das entradas do Mundial obtinha o produto por meio de funcionário da entidade, e de federações nacionais, segundo investigações da polícia civil do Rio de Janeiro na operação "Jules Rimet".

Não é o primeiro caso de desvio de ingressos da "família futebol" para revenda ilegal: ocorreu também nas últimas Copas com envolvimento de altos dirigentes da entidade. Houve punição dura da Fifa em poucos casos, o que, óbvio, não inibe novos problemas.

Isso fica claro pela atitude dos cartolas diante do escândalo. Três membros do Comitê Executivo da Fifa ouvidos pelo blog nesta quinta-feira afirmaram desconhecer a investigação dos bilhetes. Ou seja, a cúpula da entidade ignora o problema, ou não o trata como sério.

A porta-voz da Fifa, Delia Fischer, afirmou que "há sempre coisas para melhorar" no sistema de ingressos. Mas afirmou que todos já são personalizados e podem ser rastreados. Só que Humberto Grondona, filho do vice da Fifa Julio Grondona, não tem uma investigação contra ele apesar de ter admitido revender seu bilhete fora do sistema oficial.

Do total dos ingressos da Copa, inicialmente, só cerca de um terço vai para o público em geral. Fora isso, o restante pode ser comprado por federação nacionais ou por parceiros comerciais. Entre eles, há 320 mil bilhetes, ou 10% do total, para as associações nacionais, para a Fifa e para a CBF.

São 120 mil para as federações de cada país classificados ao Mundial, sendo 700 por jogo em que cada uma delas participa. E outros 200 mil bilhetes são para a Fifa e outras associações sem vaga na Copa. Só a CBF ficou com 1% do total das entradas da competição.

É nesta carga que existem os maiores problemas. A polícia encontrou ingressos da confederação brasileira, e das federações argentina e espanhola com a máfia comandada por Lamine Fofana.

Não é a primeira vez. Estão longe de ser raras as cenas de vendas de bilhetes de associações, em seus hotéis, durante a Copa. No Mundial-2006, houve escândalos sérios.

Membro do Comitê Executivo da Fifa, Ismail Bhamjee foi pego negociando 12 ingressos por conta própria: foi expulso. Mas o ex-vice-presidente da entidade Jack Warner foi flagrado em um esquema de revenda de 5.400 bilhetes, por valores que chegavam a R$ 2 milhões, por meio de uma agência de viagem. Aliado do presidente Joseph Blatter naquela época, levou uma pena branda que sequer foi divulgada.

Em 2010, também foram flagrados ingressos da delegação da CBF com cambistas. A Fifa não puniu ninguém.

Outros 445 mil bilhetes são distribuídos para a Match Hospitality, empresa que detém os direitos de revenda de pacotes por preços milionários. Havia caixas com marcas da empresa entre os ingressos apreendidos pela polícia civil. Mas uma empresa do grupo também cuida da venda de entradas, então, não é certo que eram bilhetes de hospitalidade.

No total, o público comum até comprou mais ingressos do que um terço originalmente destinado a ele no início. Houve recontagens de lugares que aumentaram a capacidade dos estádios, após contingência inicial. Além disso, vários dos parceiros devolveram entradas para a Fifa.

Mas o grosso ficou longe do sistema público de internet da entidade, o que aumenta a possibilidade de que sejam desviados no caminho.