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Rodrigo Mattos

Empresa de escândalo de ingressos recebeu R$ 9 mi em dinheiro público

rodrigomattos

08/07/2014 01h30

Envolvido em escândalo de venda ilegal de ingressos da Copa-2014, o grupo Match recebeu R$ 9 milhões em dinheiro de empresas estatais em troca de pacotes de bilhetes do Mundial. As empresas do grupo ainda têm isenção fiscal para seus serviços, beneficiadas como parceiras da Fifa. Ray Whelan, diretor da empresa, foi preso pela polícia civil acusado de participar de máfia de cambistas, e depois solto sob fiança.

A operação "Jules Rimet" apreendeu mais de 200 bilhetes de hospitalidade, e a polícia afirma que, por meio de grampos telefônicos, constatou que o líder do grupo Lamine Fofana obtinha as entradas com Whelan.

O Banco do Brasil, a Terracap (por meio do Banco de Brasília) e o Instituto de Resseguros do Brasil compraram pacotes de hospitalidade com a Match Hospitality para o Mundial e para a Copa das Confederações com contratos feitos sem exigência de licitação, já que era a única empresa que fornecia o produto. O banco estatal foi quem mais gastou com R$ 6,4 milhões.

Pesquisa do blog mostra que todos esses contratos foram assinados diretamente com a Match Hospitality. A negociação foi feita pela executiva da companhia no Brasil, Ivy Isabel Byron. Ela é mulher de Whelan, e irmã de Jaime e Enrique Byron, principais acionistas do grupo envolvido no escândalo dos ingressos.

Além dos ingressos pagos por cofres públicos, quatro empresas da holding tiveram isenção fiscal por meio da lei geral da Copa: Match Hospitality, Match Services, Match Serviços e Eventos, Match Hospitality Serviços Ltda.

Segundo a Fifa, Ray Whelan é diretor de acomodação da Match Services, que cuida da operação de venda de ingressos. Ele atuou ainda de forma ampla em contratos com 840 hotéis fechados para pacotes da Copa-2014. As condições acertadas são extremamente benéficas para a companhia.

Após sua soltura, a Match afirmou confiar em Whelan, e entende que ele será inocentado ao final das investigações. Tanto que ele voltará a trabalhar em operações da Copa-2014. A Fifa limitou-se a dizer que colabora com a polícia, e é contra a revenda ilegal de bilhetes.

Após a publicação da matéria, o Banco do Brasil mandou um comunicado ao blog explicando a compra dos pacotes de hospitalidade:

"O Banco do Brasil adquiriu ingressos para convidar os melhores clientes do segmento de alta renda e representantes de grandes empresas para assistir a jogos da Copa do Mundo, como parte de sua estratégia de marketing de relacionamento.

A prática é comum entre os nossos principais concorrentes e contempla clientes que oferecem alta margem de contribuição em seu relacionamento com o Banco.

Ressaltamos que o Banco do Brasil é uma empresa de capital misto, com atuação concorrencial no mercado, onde é líder em diversos segmentos.

Informamos ainda que a compra dos ingressos obedeceu rigorosamente a Lei de Licitações (Lei 8.666), que prevê a dispensa da licitação quando apenas uma empresa detém os direitos de comercialização de um produto, o que impossibilita a realização de processo licitatório. No caso dos ingressos para a Copa do Mundo, todas as empresas interessadas, públicas ou privadas, adquiriram os ingressos do fornecedor exclusivo autorizado pela Fifa.

O Banco do Brasil desconhece qualquer prática de venda ilegal de ingressos e refuta qualquer tentativa de relacionar sua marca a essa prática criminosa."

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.