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Rodrigo Mattos

Para que torcida única se organizadas do mesmo time brigam entre si?

rodrigomattos

09/02/2015 06h00

Durante toda a semana, discutiu-se a torcida única no clássico entre Palmeiras e Corinthians. No dia do jogo, palmeirenses tiveram conflitos com bombas com policiais. Dentro do estádio, corintianos trocaram socos entre eles. Pergunta: se não houvesse torcida visitante o jogo seria tranquilo?

É fácil responder que a fórmula que não foi adotada (sem visitantes) era a correta já que houve confusão. O promotor Paulo Castilho, que tinha exigido a exclusão dos corintianos, já deu entrevistas para responsabilizar a PM e o ex-presidente corintiano Mário Gobbi pelas ocorrências.

Assim, repete-se a tendência nacional de buscar soluções simples com canetadas apressadas para a violência sem que as causas do problema sejam atingidas de fato. E os próprios fatos derrubam a tese da torcida única.

Ora, os corintianos brigaram entre eles. Já protagonizaram cenas similares no Itaquerão no setor das organizadas sem participação dos rivais. Na véspera do clássico de domingo, bateram em são-paulinos no metrô com quem sequer se enfrentavam naquele dia.

No caso dos palmeirenses, também não é a primeira vez que protagonizam baderna na Rua Turiassu, rua onde se concentram suas organizadas. A estreia da Arena Palmeiras teve arremessos de garrafas e ameaças de agressões a jornalistas, embora em bem menor escala do que domingo. Em resumo, a ausência de rivais não evita conflitos. A Argentina já adotou a medida e as mortes se acumulam no futebol local.

No Egito, neste mesmo domingo, houve restrição a entrada de parte dos torcedores do Zamalek para evitar novas mortes. Isso gerou uma confusão. Quando a briga estourou, a polícia jogou bombas como foi feito com os palmeirenses. Resultado: 19 mortos.

Então qual a solução? Lugares que conseguiram reduzir o holliganismo como Inglaterra e Alemanha – reduzir, não extinguir – adotaram pacotes de medidas, estudadas após discussões que envolveram a sociedade inteira.

Entre os principais pontos, estava a identificação dos torcedores violentos e a sua real punição. São conhecidos, fichados e processados criminalmente, presos e impedidos de ir a jogos. Isso é feito de verdade, e não de brincadeira como faz a FPF (Federação Paulista de Futebol). A polícia tem treinamento específico para atuar em conflitos. Procure por vídeo de agentes alemães contendo holligans: a regra é não reagir agressivamente.

Do outro lado, coletivamente, as torcidas alemães passaram a ter uma relação mais próxima com os clubes por meio de canais oficiais, de forma que a diretoria tenha controle sobre os grupos e possa puni-los ao reconhecer quem sai da linha.

Essa proximidade, ao contrário do que possa parecer, não é promiscuidade como a vista no clássico em que o Corinthians bancou parte dos ingressos para suas organizadas que receberam a maioria dos bilhetes. Neste caso, a agremiação, que acertara ao exigir a presença de sua torcida, errou ao privilegiar um grupo envolvido em casos violentos e não todos os torcedores que têm maior assiduidade nos jogos, o que pode se verificar pelo sócio-torcedor.

As soluções de outras países não são necessariamente boas ou completas para o Brasil. Certo é que, como os outros países, a sociedade brasileira deveria estudar as causas da violência o futebol de forma integral, discutir soluções e criar um plano amplo – cabe ao governo federal pelo menos centralizar esse debate. Até porque está claro que medidas isoladas como torcidas única, extinção de organizadas ou bombas não são uma fórmula mágica. Só servem para dar a impressão de que algo está sendo feito.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.