Corinthians precisa dobrar renda para não perder controle do Itaquerão
O Corinthians tem que pelo menos dobrar sua arrecadação atual no Itaquerão para evitar uma exclusão da gestão do estádio. Explica-se: o clube tem que ganhar R$ 336 milhões nos próximos três anos ou o fundo dono da arena pode retirá-lo da administração da arena. É o que diz o contrato de operação entre os corintianos e o fundo (controlado indiretamente pela Odebrecht) obtido pelo blog.
O modelo para construção e gestão do Itaquerão determinou que o Arena Fundo de Investimento Imobiliário F-II é o dono do estádio. Seus cotistas são a empresa Arena Itaquera (principal sócia), a Odebrecht e o clube. A partir daí, foi assinada uma série de contratos entre as partes, incluindo documentos do financiamento do BNDES, da construção e da operação.
Pelo "Contrato de Operação de Equipamento Esportivo, agenciamento e outras avenças", assinado em junho de 2014, o clube tem que arrecadar um mínimo de R$ 112 milhões líquidos em cada um dos próximos três anos. Em seis meses do ano passado, o Corinthians obteve R$ 36 milhões brutos, a maior parte com bilheteria e uma fatia menor com camarotes e um evento.
Do dinheiro dos ingressos, dois terços costumam ficar com o clube – o restante é para despesas da partida. Ou seja, com bilheteria, o clube teria de ganhar R$ 170 milhões para gerar os R$ 112 milhões líquidos. Mas as comercalizações de assentos premium e camarotes, que serão feitas agora, têm custo menor, assim como os naming rights. Assim, em cálculo aproximado, o clube tem que pelo menos dobrar sua arrecadação geral para atingir o valor mínimo previsto em contrato para 2015.
É a cláusula 5a do contrato que cria uma "Meta Global Anual" para o estádio. Pelo texto da cláusula 5.1, o clube tem que realizar negócios "de modo que o Fundo obtenha Receita Contratual Anual em valor igual ou superior a i) R$ 112 milhões" para cada ano do período entre 2015 e 2017. O valor sobe para R$ 211 milhões a partir de 2018, sempre com correção do IPCA (índice de inflação).
Haverá uma verificação anual para saber se o Corinthians atingiu o patamar mínimo. Nesta apuração, só serão consideradas as receitas líquidas, isto é, excluído o que foi gasto com cada operação de comercialização de cada item.
O documento prevê punições ao clube por não obter a meta. Na cláusula 5.3, fica acordado que, se o Corinthians não atingir o valor mínimo por dois anos seguidos, o fundo pode substituir todos os seus dirigentes que atuam no Itaquerão.
Mais do que isso, o clube entra em uma "período de cura", ou seja, tem um ano para atingir o patamar mínimo do contrato. Caso isso não aconteça, a cláusula 5.4.3 determina que "o Fundo terá o direito, mas não a obrigação, de rescindir o presente contrato a partir do primeiro dia subsequente ao término do período de cura, conforme o disposto na cláusula 11.2". Esse trecho diz que o contrato pode ser rompido sem notificação ao Corinthians.
Em resumo, se não atingir a meta de R$ 112 milhões de receita líquida por ano em três períodos, ou seja R$ 336 milhões nos próximos três anos, o clube pode ser excluído da gestão do Itaquerão, e substituído por outra empresa ou entidade. Se considerarmos o triênio de 2018 a 2020, são necessários R$ 633 milhões de receita líquida para evitar perder a administração da arena.
Essa exclusão, aliás, já estava prevista no contrato de financiamento com a Caixa Econômica Federal para financiamento do BNDES, como mostrado pelo blog. A questão é que não se sabiam as condições para ela ocorrer.
Na hipótese da saída da administração, o Corinthians passaria a ser apenas o usuário do Itaquerão – pois é obrigado a atuar 90% dos jogos lá por outros acordos -sem ter nenhuma remuneração por isso. Continuaria a ter também os direitos sobre as cotas juniores do estádio com a possibilidade de, no futuro quando tudo estiver pago, assumir a posse do estádio. Mas, se esses valores não forem quitados, a Odebrecht pode vender as cotas do estádio.
Se falhar em dois anos, e conseguir atingir o valor mínimo no ano seguinte, o clube continua em período de cura. Livra-se da ameaça de ser excluído da gestão caso obtenha a renda prevista em dois anos seguidos.
Claro, há a possibilidade de o clube não alcançar a meta e não ser excluído pelo fundo, e sua controladora de fato a Odebrecht. Mas, neste caso, o Corinthians estaria nas mãos da construtora, assim como já ocorre em relação aos contratos de construção do estádio que geraram uma dívida não paga.
As metas podem ser revisadas a cada ano, em janeiro, desde que exista acordo entre as duas partes. O patamar mínimo foi estabelecido em R$ 112 milhões porque o clube e o fundo projetam uma média de R$ 150 milhões por ano com o estádio. Questionados, a construtora e o clube não informaram se havia previsão de rever os números.
A partir do início de 2015, o fundo passa a ter direito a verificar a cada semestre as contas do estádio, e já pode exigir mudanças na gestão se os valores arrecadados estiverem 30% abaixo do patamar mínimo.
Não é o único mecanismo de controle sobre o Corinthians neste contrato. Todos os documentos da arena têm que estar disponíveis para análises do Fundo. Inspeções ao estádio também devem ser permitidas a qualquer momento. E o clube ainda tem que aceitar ser submetido a uma auditoria de suas contas referentes à operação da Arena. Os contratos de exploração do Itaquerão com outras empresas também têm que passar pelo crivo do fundo, que pode reprová-los e rescindi-los.
Em troca desses compromissos, o Corinthians tem direito a uma remuneração mensal do fundo, mas são descontadas desse valor todas as despesas de manutenção como água, esgoto, luz, serviços ordinários, custo de manutenção, etc.
Em 2014, o clube teria direito a R$ 2,5 milhões por mês. A partir de 2015, esse montante é calculado por uma fórmula que levam em conta 20% da receita anual, menos as despesas de manutenção, menos uma contraprestação mínima. Para os dois primeiros anos, será considerada a renda estimada que é de R$ 150 milhões, ou a receita atual, o que for maior.
O custo de manutenção do Itaquerão é estimado em R$ 30 milhões por pessoas envolvidas na operação. Feitas as contas com a fórmula, e com receita de R$ 150 milhões e reajuste da inflação, o clube teria direito a cerca de R$ 8 milhões por ano ou R$ 670 mil por mês em 2015. Isso representa pouco mais do que o valor mínimo que é de R$ 500 mil. Se houver despesas extras, são de responsabilidade do Corinthians.
De qualquer maneira, para receber pela gestão do Itaquerão, o clube tem que estar quitando regularmente as prestações do financiamento do BNDES, o que ainda não aconteceu. Sem isso, o dinheiro que não for de manutenção vai todo para pagar a dívida.
O Corinthians também pode rescindir o contrato caso o fundo deixe de pagar sua remuneração. Só que, caso não exista dinheiro no fundo para pagar o clube, a quitação pode ser feita posteriormente sem punição.
O blog procurou o Corinthians e a Odebrecht para pedir esclarecimentos sobre pontos do contrato de operação da arena. As duas partes alegaram que a cláusula de confidencialidade, que, de fato existe, os impede de falar sobre o assunto. A construtora alegou ainda que o acordo é entre o fundo e o clube. Mas foi a empreiteira que montou toda a operação e indicou os gestores do fundo.
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