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Rodrigo Mattos

'Imprensa fala em 7 a 1, mas está 8 a 0 para nós', diz novo diretor da CBF

rodrigomattos

16/04/2015 06h00

Após três anos de José Maria Marin, a CBF terá uma troca na presidência com a posse de Marco Polo Del Nero (até então vice) nesta quinta-feira. O fato de ele já estar na gestão da entidade indica poucas mudanças. O novo secretário-geral da confederação, Walter Feldman, no entanto, promete o contrário em entrevista ao blog: vai realizar modificações.

Só que o discurso dele é de resistência a revoluções como a formação das ligas cogitada por clubes de futebol. A maior parte das medidas impostas pela MP do Futebol também são rechaçadas como interferência e falta de democracia. O calendário do futebol e os Estaduais ainda não têm um plano elaborado tanto que Feldman preferiu não falar sobre eles: só garantiu que há estudos técnicos sobre o assunto, e clubes e jogadores serão ouvidos. Veja a entrevista:

Quais prioridades para a nova gestão de Del Nero?

Feldman: Será uma gestão moderna, transparente, democrática, e social. São as palavras que o Marco Polo usou quando me chamou. Será intensa a relação com as federações e os clubes. A CBF se coloca para a sociedade: cumprirá sua função, e terá prestação de contas.

O que será feito em relação ao conflito entre clubes e federações estaduais?

Feldman: O conflito maior é no Rio. O presidente tem ouvido os dois lados. Já ouviu Flamengo e Fluminense, e Rubinho da federação. Ele tenta encontrar uma mediação de conflitos. Atua bem no papel de magistrado, que acumulou de experiência na FPF e no tribunal.

O que a CBF tem contra a MP do futebol? O que tem a favor?

Feldman: A MP, em primeiro lugar, não considerou o fato de que havia o acúmulo de dois anos de discussão no Congresso (…) Quando veio a MP, trouxe série de elementos de conflito como contas únicas obrigatórias para clubes. Nunca teve um papel do governo neste sentido em outros setores. A exigência em caso de descumprimento se ter ligas, fora do sistema de futebol, interfere. Não é a ideia da liga, e sim da liga pirata. MP veio muito cercada de elementos nocivos.

A CBF é contra a liga?

Feldman: É uma tese para mudança do sistema. Está dizendo que não é a CBF que deve organizar o futebol, mas a liga. Vindo como contrapondo, e vindo por lei, é muito estranho. O que acho estranho é como a sociedade não criticou. Não estão nem dando chances ao Marco Polo de assumir para apresentar a nova gestão. (…) O que ela (MP) tem de bom: tem o parcelamento para ajudar os clubes, e a excepcional contrapartida com modelos de gestão como pagamento de jogadores de forma prioritárias, controle de custos.

Se não aceita reforma de fora, a CBF prevê alteração no Estatuto para aumentar a democracia no sistema? 

Feldman: Muita coisa vai mudar. A CBF já aprovou mudanças que antes não havia: o fair play trabalhista. Os atletas podem questionar é a tonalidade da mudança. Federações e clubes vão incluir em seus estatutos punições para quem não cumprir medidas, as punições. Mas não pode vir por lei.

Na sua opinião, o modelo federativo do futebol brasileiro funciona? Por que ele não promoveu mudanças até agora…

Feldman: É o modelo da sociedade brasileira de quem foi eleito democraticamente. Assim é democracia. Os que são contra a Dilma não podem dizer para sair dentro do sistema democrático. A CBF é sensível às mudanças, mas tem que ocorrer no sistema. A visão democrática é de que não pode ser pelo governo.

A sua visão então é que a gestão atual da CBF tem méritos?

Feldman: A gente, quando está fora, acha que está tudo errado. Quando chego aqui, vejo que a Copa Nordeste e a Copa Verde têm uma dimensão hoje enorme. A CBF financia Série B, C, D. Gasta R$ 100 milhões com esses campeonatos, e com o futebol feminino. Como financiaria os outros sistemas sem o Brasileiro?

Mas o dinheiro vem do patrocínio da seleção, não do Brasileiro.

Feldman: O Brasileiro tem relação direta com os patrocinadores. Mudou, várias coisas aconteceram. Marco Polo entra amanhã, e está se propondo de maneira corajosa a mudar. A imprensa tem dificuldade enorme de reconhecer melhorias. Quando toda a imprensa só fala em 7 a 1, já está em 8 x 0 para nós (se refere à boa campanha da seleção de Dunga). Não tomamos gol.

O senhor fala em 8 a 0 em relação à organização do futebol brasileiro ou só ao time?

Feldman: Não, falo em relação só ao time. Se a gente só bater, não reconquista essa cadeia do futebol brasileiro. Ainda é o maior celeiro de jogadores da Europa. É um problema porque vão precocemente para fora. E há os altíssimos salários no Brasil que quebram as finanças. São um problema. Mas a seleção vai para a França e ganha em Paris. Vai para a Inglaterra, e é aplaudida. A crônica só bate. A Inglaterra aplaude o Brasil. Temos um patrimônio gigantesco.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.