Dívida do Galo cresce R$ 128 mi com Kalil. Ele rebate: 'Foram os juros'
Bernardo Lacerda/UOL Esporte
Presidente alvinegro mais vitorioso dentro de campo, Alexandre Kalil encerra sua gestão no Atlético-MG com um crescimento da dívida de R$ 128 milhões em seis anos. O dirigente, no entanto, contesta: afirma que o aumento foi causado por juros sobre débitos que já existiam quando ele chegou ao clube.
Vamos aos fatos com argumentos do blog e do ex-cartola atleticano. Primeiro, o balanço do Galo de 2014 fechou com um prejuízo de R$ 48 milhões com gastos maiores do que a receita. Com isso, a dívida líquida saltou para R$ 487 milhões.
Ao final de 2008, quando Kalil assumiu o Galo, o débito líquido era de R$ 265,2 milhões. Corrigido pela inflação nos últimos seis anos, esse valor chega a R$ 359,2 milhões. Assim, a diferença é de R$ 128 milhões. Em contrapartida, o clube teve um salto de receita de R$ 53 milhões para R$ 179 milhões.
Há três problemas principais na atual dívida atleticana: compromissos com jogadores, o débito com o governo parcelado no Refis (programa de refinanciamento fiscal), e o eterno passivo com o BMG/Ricardo Guimarães. Abaixo a discussão ponto a ponto com argumentos de Kalil e do blog:
1- Aumento da dívida
Kalil
"Com exceção do passado, não aumentamos a dívida que já existia. Quando jogar a dívida para trás e calcularmos os juros, ficou na metade do que deveria ser. A dívida deveria ser R$ 1 bilhão. É argumento de criança dizer que aumentou sem pensar nos juros." Com aplicação de juros bancários, (entre 1,5 e 1,6% mês), o débito cresceria para entre R$ 775 milhões e R$ 1,1 bilhão. Ele ainda argumenta que só teve prejuízo operacional em 2014.
Blog
O débito que tem juros bancários é uma parte do passivo do clube de pouco mais de um terço do total. O restante é composto pelos compromissos fiscais, que são reajustados pela Selic e outros passivos. Fato é que Kalil não agiu para reduzir as pendências bancárias do Atlético-MG, e só arrumou uma solução para a questão fiscal no final. Com despesas altas, o débito cresceu.
2 – Dívidas com jogadores
Kalil
"A folha do Atlético-MG é de R$ 6 milhões. Quando saí do clube, assinei um documento dizendo que estava com um mês de direito de imagem atrasado. Reconheci isso. Agora, não gastei com contratação para montar o time. Não saí fazendo loucura."
Blog
O débito registrado do Galo com jogadores é de R$ 31 milhões, quase inteiramente criado em 2014 pois o valor era R$ 800 mil no ano anterior. Dentro desse montante, há rescisões de jogadores, direitos de imagem, direitos econômicos, e intermediação de negócios.
3- Débito com o governo
Kalil
"Deixei de pagar alguns impostos em algum momento. Arrumei o problema de 107 anos do Atlético (sem títulos). Não assumi o Atlético só para ser arrumadeira (de contas)." O dirigente argumenta que, com a nova inclusão no Refis, o clube economizou R$ 78 milhões em multas e encargos, e agora pagará em torno de R$ 600 mil por mês.
Blog
A dívida fiscal era de R$ 131 milhões (R$ 177 milhões corrigidos pela inflação) e chegou até um patamar superior a R$ 300 milhões durante o ano de 2014. Ou seja, é fato que o Galo sob Kalil deixou de pagar impostos e aumentou o débito fiscal. Antes da saída, ele obteve o Refis e o desconto: o valor atual é R$ 234 milhões.
4- Empréstimos de Ricardo Guimarães (ex-presidente do clube) e seu banco BMG
Kalil
"Essa dívida já vinha da gestão do Ricardo Guimarães, que não é meu amigo. Acho que o clube pagava R$ 200 mil por mês na minha gestão. Não sei quanto está agora. Foi uma dívida que ele fez com ele mesmo (quando era presidente). Não peguei empréstimo com ele."
Blog
Em 2008, o débito com instituições financeiras, a maior parte com o ex-presidente Ricardo Guimarães ou seu banco BMG, estava em R$ 106 milhões (R$ 146 milhões corrigidos pela inflação). Esse total saltou para R$ 177 milhões. Os juros incidentes eram CDI ou taxas bancárias, mas foram renegociados para baixo. Pouco foi pago, e não houve novos empréstimos.
5 – Resultados esportivos x finanças
Kalil
"Sou o mais bem-sucedido dirigente do futebol. Não sou modesto. Participamos de uma competição e todos querem vencer. Se mudar daqui a 40 anos, podemos falar em fair play financeiro. Eu defendo isso. Mas todo mundo tem que fazer. Não adianta um só fazer"
Blog
Os méritos esportivos de Kalil no Atlético-MG são inegáveis: ganhou a Libertadores, e outros títulos em um clube antes de raras taças. E, sim, essa é a lógica da maioria dos cartolas: apostar no campo, a despeito do resto. É o que levou os times à difícil situação financeira atual. O crescimento esportivo tem que ser sustentado pelas finanças ou compromete o futuro.
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