Por que, na crise, o São Paulo não discute a democratização do clube?
Anunciada a renúncia de Carlos Miguel Aidar, os poderes do São Paulo discutem quando será a próxima eleição, quem ficará na diretoria com o presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, como será a investigação da gestão anterior. Em nenhum momento há um debate sobre a estrutura anti-democrática e ultrapassada do clube.
O São Paulo é hoje o clube menos democrático entre os 12 grandes do futebol brasileiro. Em nove dos times, há eleições diretas pelos sócios. No Cruzeiro e no Atlético-MG, o presidente é escolhido por meio do Conselho Deliberativo como no Morumbi.
A questão é que o clube são-paulino tem regras ainda mais restritivas pelas quais dois terços dos conselheiros, os chamados vitalícios, são eleitos por seus próprios pares e isso só após 20 anos de vida associativa. Apenas um terço é escolhido pelos sócios, que têm, portanto, uma participação ínfima na escolha do presidente do clube.
Conversei com conselheiros representativos neste semana que reconhecem a necessidade de mudança nas regras. Entendem que a questão dos vitalícios, sim, tinha que ser revista. Mas eles não querem dar a cara a tapa porque sabem da resistência de se mudar qualquer coisa no São Paulo entre os mais antigos.
Quando se fala em eleição direta do presidente pelos sócios, então, não se ouve uma voz de apoio. As desculpas são mil: os sócios vão priorizar a parte social e não o futebol, membros de torcida organizadas vão ter grande influência na eleição, há torcedores de outros times que são sócios e vão influenciar na escolha.
Ora, os outros nove clubes grandes brasileiros têm eleição direta para presidente e não há nenhum presidente de organizada no poder. O debate entre social e futebol é presente em todos esses times, mas isso não impediu nenhum deles de investir forte no carro-chefe. E o São Paulo não é o único a ter torcedores de outros equipes entre os sócios, talvez, seja só um caso específico. Mas a maioria é são-paulina.
O que parece acontecer é que mesmo as melhores cabeças do clube têm dificuldade de enxergar que o modelo do clube se esgotou. Aidar não errou sozinho. Quando ele foi eleito, os conselheiros cantavam: "Aidar voltou, Aidar voltou".
Erraram juntos por acreditar em um sistema eleitoral em que antiguidade é posto, e não mérito. O próprio Leco, que é boa pessoa aliás, assumirá agora porque ficou anos por ali servindo o clube. Não é necessariamente quem a maioria dos são-paulinos vê com mais mérito para reerguer o time.
Claro, o sistema eleitoral direto não é perfeito e já houve diversas escolhas equivocadas em outros grandes clubes. Mas, quanto maior o colégio eleitoral, mais os candidatos terão de se abrir e mostrar propostas concretas pelo que serão cobrados. E não ficar fazendo política para um clubinho de 200 pessoas. É hora de os são-paulinos investigarem os erros de Aidar, mas olharem também para seus equívocos que levaram ao quadro atual.
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