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Rodrigo Mattos

Brasil se candidataria à Copa e à Olimpíada se soubesse da crise econômica?

rodrigomattos

03/01/2016 05h00

Candidato único, o Brasil foi escolhido sede da Copa do Mundo em outubro de 2007. Em eleição apertada, o Rio de Janeiro ganhou de concorrentes o direito de receber a Olimpíada-2016 dois anos depois, em 2009. Ambos os projetos só saíram com forte apoio do governo federal, que surfava em um momento de crescimento econômico.

Empolgado com a vitória sobre Chicago na escolha olímpica – a cidade norte-americana foi representada por Barack Obama -, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizia que o Brasil não era os EUA, mas poderia vir a ser. O seu plano era de que os dois grandes eventos iriam mostrar a imagem do Brasil grande ao mundo, uma espécie de festa de novo rico.

Às vésperas da Olimpíada, o país prepara-se para receber os Jogos em meio a uma crise econômica acentuada, com previsão de redução de PIB, inflação acelerada e aumento de dívida pública. Para se ter ideia, o documento de candidatura olímpica cotou o dólar a R$ 2,00 em seu orçamento, e hoje ele vale em torno de R$ 4,00.

A crise já se desenha desde 2014. Foi postergada por medidas do governo Dilma Rousseff, sucessora de Lula, em ano eleitoral. Ela aumentou seus gastos naquele ano causando os déficits atuais nas contas do governo.

Entre os altos investimentos, estavam os R$ 8 bilhões em estádios de futebol para a Copa do Mundo, boa parte deles com pouca utilidade ou operando com prejuízo. As infraestruturas para as cidades-sede ficaram na promessa na maior parte dos casos.

E, sob o ponto de vista econômico, sequer valeu à pena. Ao contrário da previsão de consultorias otimistas, a Copa do Mundo não foi um impulso para economia. Dilma e sua equipe econômica admitiram que o evento pode até ter contribuído para a retração do PIB.

Nada indica que será diferente com a Olimpíada. Falido pela crise e pelos problemas do setor petroleiro, o governo do Estado do Rio ainda tem que destinar recursos aos Jogos, enquanto falta dinheiro para hospitais e para o funcionalismo público. Esse é o mesmo governo que gastou R$ 1,2 bilhão com a reconstrução do Maracanã nos padrões Fifa, aquela mesma que teve vários dirigentes afastados ou presos. Como bem disse Ronaldo: não se fazem Copa com hospitais.

Para a Olimpíada, as sedes esportivas estão garantidas, mas terá de haver cortes na organização. As promessas de melhoria de infraestrutura não serão todas cumpridas.

É provável que, a despeito de tudo isso, a Olimpíada seja organizada com correção e seja uma festa inesquecível para os brasileiros. Foi assim na Copa: um mês e pouco de celebração com estrangeiros apesar do fracasso da seleção.

Para um país rico, pode fazer sentido gastar em uma festa que impulsiona o ânimo do seu povo. A Copa da Alemanha provocou um sentimento de união nacional que a justificou em uma nação que fornece quase tudo a seus cidadãos. O problema é que nós não somos ricos.

O então presidente Lula e sua sucessora Dilma, comitês de Copa e da Olimpíada pintaram um país cheio de recursos e destinado à ascensão no cenário econômico mundial que só existiu em uma ilusão. E, antes mesmo que o crescimento que projetavam se concretizasse, marcaram duas festas grandiosas para celebrar. O dinheiro não veio, e sobrou a conta. E a ressaca.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.