Rio boicota o seu futebol como demonstra o Fla-Flu itinerante
Não há dúvidas que um Fla-Flu ocasional no Pacaembu ou em Brasília torna-se um bom espetáculo. Uma prova disso foram os públicos acima de 30 mil em São Paulo e no Distrito Federal para os dois jogos de 2016. O problema é quando isso se torna uma rotina e o clássico perde sua referência maior, o Maracanã.
Uma consequência dos seguidos equívocos do governo do Estado do Rio de Janeiro, da Odebrecht e da Ferj (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro). Juntamente com erros da prefeitura do Rio, não faltam medidas que boicotam o futebol carioca ao gerar enormes obstáculos para os quatro grandes da cidade.
Basta dizer que a dupla Fla-Flu iniciou o ano sem estádio para jogar. Com prejuízo financeiro, e prestes a entregar o Maracanã, a Odebrecht decidiu fecha-lo e inviabilizar sua operação em fevereiro. Deu a arena antecipadamente para o Comitê Rio-2016 no início de março. Quem conversou com membros do Rio-2016 sabia que havia margem para retardar o fechamento.
Se a empresa não quer perder dinheiro, o governo do Estado também não pensa em gastar nada, e aceitou tudo passivamente. Pior, após uma desastrosa concessão do estádio para a Odebrecht, há uma articulação para entregar o estádio para a dupla BWA/Langardere, segundo mostrou o jornal "O Globo". O secretário da Casa Civil do governo, Leonardo Espíndola, já falou com entusiasmo sobre o grupo que poderia comprar ativos da Odebrecht.
Caso isso se concretize, seria entregar o estádio sem licitação para empresa de atuação polêmica no Brasil. A BWA cresceu com relação estreia com dirigentes da FPF (Federação Paulista de Futebol), incluindo o presidente afastado da CBF Marco Polo Del Nero. E se viu envolvida em casos de venda irregular de ingressos.
Fora o histórico da empresa, é um problema só o fato de o governo estudar dar o estádio sem licitação sem que os clubes, principais interessados, fossem ouvidos. Exatamente o mesmo erro da fracassada concessão à Odebrecht, e sem concorrência.
Ora, a BWA não desce pela goela da diretoria do Flamengo. Há uma grande chance de, caso assuma o estádio, o clube optar por se afastar e ir jogar no Engenhão. A diretoria rubro-negra não aceita uma solução que não passe por uma conversa com ela e com a cúpula do Fluminense. A jogada ensaiada pelo governo do Estado ameaça tirar de vez o Fla-Flu do estádio. Que gênios!
Não é o único caso de prejuízo causado aos clubes do Rio por autoridades. A inépcia na obra e depois o atraso no conserto do Engenhão prejudicaram financeiramente e tecnicamente o Botafogo. Sem sua casa, que tinha meios de se tornar rentável, o time alvinegro viu se expandir o seu buraco econômico. Pense em quanto tempo o Botafogo ficou sem poder jogar na arena que lhe foi concedida.
Em paralelo à atuação das autoridades, a Ferj em nada contribuiu para resolver o problema dos estádios ao mesmo tempo em que atrapalha soluções alternativas. Faz birra para liberar jogos fora do Estado para depois autorizá-los a contragosto. Boicota uma competição potencialmente rentável para os cariocas como a Primeira Liga. E impõe um Estadual mais uma vez inchado por times irrelevantes.
Em meio aos ataques de fogo-amigo que recebe diariamente, a dupla Fla-Flu tem como única alternativa se afastar cada vez mais da cidade e do Estado que o tornaram famosos. Quem sabe um dia o tradicional clássico se tornará tão raro no Maracanã quanto foi no Pacaembu.
Aí poderemos celebrar o jogo como um "evento especial", como se fosse um show do Rolling Stones. Na tribuna de honra, certamente um governador e um prefeito do PMDB, e Rubens Lopes pela Ferj. É provável que um deles faça um discurso sobre a importância do jogo para o Rio de Janeiro. E nós ainda teremos que ouvir calados.
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