Diretor suspeito da Odebrecht atuou para encarecer Arena Corinthians
Suspeito de ter pago propina a dirigente do Corinthians, em investigação da Lava-Jato, o diretor da Odebrecht Antônio Roberto Gavioli atuou para aumentar o preço do estádio por meio de alterações contratuais. Sua assinatura consta de aditivos ao acordo e de reuniões para incrementar o valor pago pelo clube pela arena. Cartolas corintianos aceitaram o crescimento do montante.
O blog mostrou que a Odebrecht conseguiu cinco mudanças no contrato original de construção da Arena Corinthians, que elevaram o preço de R$ 820 milhões para R$ 985 milhões. Com juros e instalações provisórias, o valor subiu a um total entre R$ 1,150 bilhão e R$ 1,2 bilhão.
Pelo menos dois dos aditivos contratuais têm as assinaturas de Gavioli, o terceiro e o quarto. Sua participação ainda foi decisiva no quinto aditivo que, de fato, aumentou o preço do estádio.
Uma reunião em fevereiro de 2014 determinou o incremento do contrato. Na ata deste encontro, estão lá como representantes da Odebrecht, Antônio Roberto Gavioli, Ricardo Corregio e Luiz Bueno. Pelo Corinthians, Andres Sanchez e o arquiteto Aníbal Coutinho. Juntamente com os outros executivos, Gavioli pretendia um valor ainda maior para a obra. O aumento foi decidido com a justificativa de alteração no escopo da obra.
O arquiteto Aníbal Coutinho argumentou que demandas feitas pelo clube justificavam um aumento em torno de R$ 23 milhões em custo direto, um valor bem inferior ao crescimento de R$ 175 milhões. "Não participei da discussão de valores nesta reunião porque não me cabia. O que fiz foi participar da elaboração do anexo técnico com os itens da obra. Esse anexo possibilita hoje a realização da auditoria da obra", afirmou o arquiteto.
A revisão do contrato gerou um aumento, por exemplo, no lucro da Odebrecht que era calculado por percentual. Somados a taxa de administração e seu lucro, a empreiteira passaria a receber R$ 79 milhões. A construtora alega que o dinheiro seria aplicado na própria obra.
Gavioli e Bueno realizavam todas as suas negociações diretamente com Andrés Sanchez. Foi o que ocorreu no caso deste quinto aditivo contrato – a assinatura pelo clube, no entanto, é do presidente então da época Mario Gobbi. O novo acordo foi selado em maio de 2014.
Agora, o clube diz já ter contratado uma auditoria para verificar se houve gastos não justificados no estádio e promete requisitar abatimento se isso for constatado.
Não havia nenhuma participação de André Luiz Oliveira, vice do Corinthians que foi detido e questionado se recebera R$ 500 mil de propina. O valor do suposto pagamento foi encontrado pela operação Lava-Jato em documentos contábeis da Odebrecht, com o nome de Gavioli, a inscrição Timão ao lado e um número de endereço associado a Oliveira onde seria entregue o dinheiro. O diretor da Odebrecht também foi alvo de operação de busca e apreensão e condução coercitiva.
Um cenário bem diferente do prestígio que demonstrava dentro da Arena Corinthians. Quando a presidente da República, Dilma Rousseff, esteve no estádio para visitá-lo, Gavioli foi um dos poucos que estavam na sala especialmente reservada para ele, juntamente com Andres para recebê-la. Outro presente era o presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, agora preso pela Lava-Jato.
Na terça-feira à noite, a empresa confirmou que fará "uma colaboração definitiva para a Operação Lava-Jato". Entre os principais executivos presos, está o diretor Alencar Alexandrino, que ajudou a viabilizar o estádio corintiano juntamente com Andrés Sanchez. E agora há o envolvimento de Antônio Gavioli. O blog não conseguiu encontrá-lo para comentar.
Na operação do estádio, o Corinthians acumula uma dívida de cerca de R$ 400 milhões com a Odebrecht por meio do fundo da arena, sem a aplicação de juros. Outros R$ 400 milhões são devidos no financiamento do BNDES. Há ainda empréstimos bancários.
Em nota nesta terça-feira, o Corinthians afirmou que "quaisquer irregularidades ou desvios de conduta, constatados por autoridades ou não, serão devidamente apurados, e a Instituição tomará todas as providências a si cabíveis para punir os responsáveis, bem como diligenciar para que todos os prejuízos causados ao Clube e à Arena Corinthians sejam ressarcidos".
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