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Rodrigo Mattos

CBF abre diálogo com governo Temer, enquanto vê CPI ser enterrada

rodrigomattos

19/05/2016 06h00

O impeachment da presidente Dilma Rousseff e a posse do novo governo Michel Temer criaram um cenário favorável para a CBF. A CPI do Futebol, principal foco de investigação da entidade, deve ser enterrada. A diretoria da confederação já abriu diálogo com o novo Ministério do Esporte, e vê possibilidade de boa relação com o presidente Michel Temer.

Na semana passada, o secretário-geral da CBF, Walter Feldman, ligou para conversar com o novo ministro do Esporte, Leonardo Picciani. "Conversei com ele sobre o tema do futebol brasileiro. Queremos botar na pauta a internacionalização por meio da Apex (Agência Brasileira de Promoção e Exportação de Investimentos)", contou Feldman, que lembrou que o ministro já visitou a CBF antes.

O antecessor no Ministério George Hilton ficou do lado da Primeira Liga na disputa com a CBF, e bancou o Profut contra os interesses da confederação. "Havia diálogo com o ministro George Hilton também apesar de divergências", ressaltou Feldman. Ele disse que mantém relação institucional com os governos, e não festeja trocas no poder.

Mas agora há ainda a possibilidade de uma relação da confederação com a presidência que não existia com Dilma. Feldman disse que tem "relação histórica" com Temer, já que ambos foram do PMDB. E afirmou que o presidente Marco Polo Del Nero também o conhece, e pode procurá-lo no futuro. Temer recebeu o ex-presidente da CBF José Maria Marin, atualmente em prisão domiciliar, quando Dilma o ignorava.

Neste cenário, a CBF deve ter mais força nas negociações relacionadas aos cumprimentos dos requisitos do Profut (programa de refinanciamento de dívidas dos clubes). Por enquanto, a confederação não pediu as certidões fiscais para os clubes disputarem o Brasileiro. Há uma discussão jurídica sobre a obrigação desses documentos.

Ao mesmo tempo, a CPI do Futebol, principal pedra no sapato da CBF, ficou praticamente inviabilizada pelo relatório do senador Romero Jucá (PMDB-RR), que se tornou ministro do Planejamento. Na visão da equipe do senador Romário (PSB-RJ), ele apressou o documento justamente para assumir o governo: não incluiu nenhum item das investigações, e apenas fez propostas para desenvolver o futebol. O documento foi considerado "muito consistente" pela diretoria da CBF.

A equipe de Romário (PSB-RJ) trabalha em um relatório alternativo que incluirá pedidos de investigação de dirigentes da CBF para o Ministério Público Federal. Baseia-se no que foi descoberto pela CPI. Mas tem minoria dentro da comissão, e dificilmente conseguirá aprovar o texto.

Ainda há uma tentativa de mudar a composição da comissão até agosto, data final da CPI. Mas até a equipe de Romário admite que seus adversários estão ainda mais fortes com Jucá como ministro. A alternativa será levar os documentos da CPI ao Ministério Público Federal mesmo sem aval dos outros senadores.

Sem a CPI, não haverá nenhuma investigação em curso contra cartolas da CBF. Há a ação do Departamento de Justiça dos EUA que acusa Del Nero de levar propinas em contratos da entidade. Mas, se ele não viajar para o exterior, não precisa responder as acusações. Já a ação no Comitê de Ética da Fifa contra ele nem o pune, nem o absolve, pois está há seis meses parada.

Ou seja, quase um ano após a prisão de Marin, a CBF parece ter obtido o seu respiro e controlado a situação.

 

 

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.