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Rodrigo Mattos

Brasileiro torce errado ou atletas reclamam à toa?

rodrigomattos

11/08/2016 06h00

"Podemos dizer que os brasileiros são democráticos: eles vaiam todo mundo", disse o diretor de comunicação do COI, Mark Adams, recentemente, questionando sobre o comportamento dos brasileiros nas arenas olímpicas. Sua resposta mostra como a torcida se tornou uma questão nestes Jogos Olímpicos.

Empolgados, os brasileiros apoiam e apupam mais os adversários do que outros anfitriões em versões anteriores da Olimpíada, levando para outros esportes o que fazem em estádios de futebol. Há atletas que gostam, há aqueles que reclamam. Está a torcida nacional é equivocada em sua atitude?

Não há uma resposta única para essa questão. Primeiro, em geral, o envolvimento dos brasileiros nas competições é positivo, inclusive para esportes antes desconhecidos como o tiro esportivo. Foi atrás de festa que o COI nomeou o Rio sede dos Jogos.

Então, por exemplo, parece mimimi da parte dos espanhóis reclamar que Paul Gasol foi ofendido por torcedores brasileiros. O basquete, em essência, tem torcidas similares às do futebol, basta ver como na NBA os torcedores rivais pressionam os visitantes.

O mesmo ocorre na natação, onde a arena se tornou um caldeirão e animou até o mito Micheal Phelps. E mesmo a vaia para a nadadora russa Yulyia Efimova faz parte do jogo. Foi pega em doping recentemente, está sob suspeita, não pode reclamar de ser apupada.

Agora, sim, há esportes em que a manifestação da torcida – não só brasileira – tem prejudicado os atletas. Por exemplo, na ginástica, os brasileiros vaiam quando consideram uma nota baixa para um atleta nacional. Só que, no momento em que a nota é anunciado, pode haver uma outra ginasta na trave, um aparelho que exige enorme concentração. Ela pode ser prejudicada.

Isso vale para esportes como tiro esportivo, esgrima, certos momentos do tênis. Não há como fugir: o barulho, nestes casos, atrapalha o atleta de realizar sua melhor performance. O público pode vibrar, mas na hora certa.

O Rio-2016 diz que, aos poucos, quer educar o público brasileiro a curtir esses esportes. Bem difícil que isso ocorra para essa Olimpíada. Ainda mais se lembrarmos que mesmo atletas olímpicos não têm essa cultura de outros esportes no país. Me lembro no Pan-2007 de ouvir o ex-jogador de basquete Oscar gritando quando uma ginasta chilena subiu na trave: "Vai cair Chile".

Enfim, neste caso, do copo meio cheio e meio vazio, resta ao COI aproveitar o lado bom que é a empolgação do brasileiro na torcida e tentar, com orientadores e bom senso, mostrar quando o barulho é inconveniente.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.