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Rodrigo Mattos

CBF erra ao mudar regra de mando de campo no meio do Brasileiro

rodrigomattos

13/10/2016 06h00

A CBF decidiu nesta terça-feira proibir jogos de clubes fora dos seus Estados nas cinco rodadas finais do Brasileiro. Com isso, quer coibir a venda de mando de campo de times sem aspirações que pode beneficiar aqueles que disputam o título. A decisão é um erro porque estabelece regras diferentes em um mesmo campeonato, o que não existe em nenhum lugar sério do mundo.

Primeiro, ressalte-se que a proibição de venda de mando de campo é correta e deveria ser instituída em todo o Brasileiro. Não dá para o poder econômico ter influência em tabelas, isto é, times mais pobres se submeterem a jogar como visitantes por dinheiro.

A CBF já tinha como coibir isso. Pelo regulamento de competições, jogos em Estados diferentes da federação de origem do time precisam da permissão da entidade como expresso no artigo 13o do RGC. Só que ela nunca botou em prática o veto mesmo quando representava uma clara inversão de campo.

Ressalte-se que não se está defendendo aqui que um clube não possa jogar fora de seu Estado. Times cariocas como o Flamengo e Fluminense não tiveram o Maracanã e jogaram em outros lugares. Mas há como permitir isso sem liberar a venda de mando de campo.

Por exemplo, o clube indicaria os dois ou no máximo três estádios fixos em que vai jogar durante o Nacional. Não poderia escolher outro. Na Inglaterra, os times têm que determinar os locais de seus jogos como mandantes previamente. Assim, uma equipe não poderia simplesmente vender seu mando para atuar com predomínio de torcida adversária.

A própria CBF entende que a venda de mando de campo é prejudicial. Seu diretor de competições, Manoel Flores, afirmou que a proibição foi tomada para evitar "distorções técnicas na definição das posições cruciais, no topo e na parte de baixo da tabela". E alegou o princípio da integridade da competição.

Ora, no Brasileiro de pontos corridos, toda rodada vale a mesma coisa. Os pontos disputados no início são tão importantes quanto os do final. Por que a integridade do campeonato não é preservada em todo o Brasileiro? Há um motivo: a CBF não quer acabar com o mercado de venda de campo para não esvaziar os estádios da Copa em locais sem futebol. E quem inventou esses elefantes brancos? O governo e a CBF.

A questão da venda de mando de campo já causou reclamações de times como o Atlético-MG, que pedia a proibição, e o Flamengo, que protestou pela mudança agora. Isso porque o Palmeiras jogou com o América-MG em Londrina, com torcida majoritária palmeirense, e o time rubro-negro não poderá fazer o mesmo.

Para mim, a mudança é equivocada, mas não dá para os clubes só chiarem quando o rival é beneficiado. O Flamengo não poderá jogar com o América-MG fora de Minas Gerais, mas enfrentou o Santos em Cuiabá, com torcida em seu favor apesar dos santistas serem mandantes. Já o Palmeiras jogará na Vila Belmiro, obviamente, bem mais difícil. Ou seja, no cômputo geral, não dá para dizer que um teve mais benefício do que o outro.

Esse tipo de discussão, no entanto, só acontece porque a CBF não cria uma regra fixa e de bom senso. Ou seja, proíbe as vendas de mando para todo o campeonato sem exceção. Como mostrado aqui, não é difícil fazê-lo e vai acabar com acusações de favorecimento. Mudar no meio do Brasileiro é o pior dos mundos.

PS: Haveria uma discussão legal se a CBF pode mudar a regra no meio do campeonato visto que isso é vetado pelo Estatuto do Torcedor. Mas o regulamento de competições e o da Série A já previa que a confederação teria direito de veto em mudanças de jurisdição de partidas. Portanto, a entidade só exerce esse direito.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.