Relação entre Palmeiras e Crefisa evitará erros de parcerias do passado?
Durante a última semana, os donos da Crefisa e o presidente do Palmeiras deram entrevistas admitindo que o patrocínio pago pela empresa está acima de mercado. Falaram o óbvio se analisarmos o futebol e a economia do país. Suas afirmações geram uma pergunta: o caso Crefisa é igual a outras parcerias que botaram dinheiro a fundo perdido em clubes e depois saíram deixando terra arrasada?
Para tentar responder a esta pergunta, vamos primeiro relembrar episódios em que isso aconteceu. O primeiro exemplo é o próprio Palmeiras com a Parmalat. Depois, temos o Corinthians com a Hicks Muse e posteriormente com a MSI. No meio disso, a ISL injetou milhões em Grêmio e Flamengo, além do Bank of American no Vasco. E a experiência mais longeva foi da Unimed no Fluminense que durou mais de dez anos.
De início, é importante ressaltar que a Crefisa tem seu dinheiro obtido legalmente no país. Há questionamentos, porém, sobre os negócios da empresa. Um processo judicial movido por uma ex-faxineira alega que o dono da empresa, José Roberto Lamachia, cometeu fraudes na fundação de sua faculdade, na década de 70, em caso revelado pela "Isto é Dinheiro". Mas ainda não há uma conclusão judicial sobre o assunto. E não há indícios de que o dinheiro da empresa é ilegal.
Em contraponto, a ISL, por exemplo, veio para o Brasil às vésperas de entrar em falência por meio de paraísos fiscais. Investigadores do caso apontam que o motivo foi tirar o dinheiro da Suíça para longe de credores. Tanto no Flamengo quanto no Grêmio acumularam-se informações de má gestão com os recursos.
A parceria Vasco e Bank of American também foi parar na CPI do Futebol com suspeitas de desvio de dinheiro. O mesmo tipo de sombra ocorreu com a MSI e seu dinheiro de origem obscura que levou à investigação da Polícia Federal no Corinthians.
Afastada dessa parceria, o investimento da Crefisa acima do mercado a aproxima dos casos da Parmalat e da Unimed. No caso da empresa médica, o dinheiro destinado ao Fluminense foi feito por um gestor, Celso Barros, que levou a empresa à beira da falência.
Um processo movido pela atual gestão da cooperativa médica contra ele indica que o recurso investido no clube não se justificava para a empresa e contribuiu para sua péssima situação atual. A Parmalat também acabou mal anos depois, embora sem tenha sido demonstrada relação direta com o Palmeiras.
No caso da Crefisa, há uma diferença: Leila Pereira e seu marido são donos da empresa. Estão colocando no Palmeiras o seu dinheiro, não o de cooperados que desconheciam a situação financeira da Unimed. Se ocorrer um prejuízo, será deles mesmos. A ver se isso pode ter impacto com clientes ou estudantes da faculdade, mas isso não se vislumbra atualmente.
Há, no entanto, um pecado comum entre a Crefisa e a Unimed, em parte também com a Parmalat. Trata-se da interferência externa de um patrocinador na gestão do clube. Celso Barros se achava no direito de pré-aprovar técnicos e jogadores, assim como a Parmalat tinha forte influência no futebol palmeirense.
Eleita conselheira e esbanjando milhões, Leila Pereira é cada vez mais influente na política do clube. E já deixou claro que entende que, por dar mais de R$ 100 milhões por ano, é a que mais contribui na história do clube. Ora, se o Palmeiras depende desse dinheiro para ter supertimes, estará nas mãos dela exclusivamente determinar qual o limite do seu poder, o que é um cenário bem complicado. A relação foge da profissional observada em outros patrocínios.
Entra aí outro aspecto que gera atenção para o alviverde. Uma característica em comum das grandes parcerias foi a complicação para o time se adaptar à realidade depois da saída do investidor. Todos tiveram quedas acentuadas de qualidade da equipe e também da gestão do clube, alguns casos resultando em rebaixamento.
Neste quesito, é preciso dizer que o Palmeiras tem uma base sólida de receitas além da Crefisa, incluindo estádio e sócios-torcedores. Teria como montar times competitivos, não no nível do atual, se houvesse um patrocinador pagando valor de mercado. O problema é que o clube inflou bastante seus gastos com futebol com base na empresa, o que pode gerar pendências em uma eventual saída.
Em contrapartida, a gestão de Maurício Galiotte se mostrou responsável ao usar entrada de dinheiro recente para reduzir a dívida com o ex-presidente Paulo Nobre. Ressalte-se que não há números detalhados do Palmeiras para 2016.
O futuro da parceria Palmeiras e Crefisa é impossível de prever. É possível, sim, ao clube evitar os erros cometidos no passado na relação de clubes de futebol com grandes investidores e com isso evitar problemas à frente.
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