Odebrecht diz que Mantega pediu ingresso da Copa quando negociava arena
As delações e provas produzidas por executivos da Odebrecht apontam interferência da cúpula do governo federal para liberar financiamentos para a Arena Corinthians. O ex-presidente da empresa Marcelo Odebrecht indicou que tinha como interlocutor frequente nessas negociações o ex-mininstro da Fazenda Guido Mantega. E, nos encontros, o político chegou a pedir ao executivo ingressos para a Copa do Mundo, segundo documento fornecido pela construtora. Essa reivindicação não tinha relação com os outros pleitos aparentemente.
Mantega é investigado em um inquérito aberto no STF (Supremo Tribunal Federal) que envolve pagamentos da Odebrecht por investimento da Previ em um empreendimento da construtora: o Parque da Cidade. No inquérito, consta uma agenda de reuniões entre o ex-ministro e Marcelo Odebrecht. As conversas envolviam diversos temas entre eles o financiamento da Arena Corinthians, tanto em relação à participação de bancos estatais quanto aos CIDs (Certificado de Incentivo ao Desenvolvimento). Isso ocorreu entre 2012 e 2013 – só no ano da Copa saiu a verba do BNDES.
No documento, Odebrecht relata quais eram seus pleitos com Mantega e depois explica se foi atendido. Em um item, ele especifica: "Pedido pessoal de Guido Mantega a mim para obter ingressos para a abertura da Copa do Mundo e para mais algum jogo na Arena Itaquera (não me recordo especificamente qual jogo)". Na anotação ao lado, o ex-presidente da construtora diz que não sabia se o pleito fora atendido.
No mesmo documento, ele detalha que eram tratados de financiamentos na Caixa, Banco do Brasil e BNDES, todos envolvidos para liberar verba para a arena. Cita ainda as CIDs (Certificados de Incentivo de Desenvolvimento) do estádio como outro item da agenda. Seu pleito neste caso não foi atendido, segundo o documento.
Em seu depoimento sobre a Arena Corinthians, Marcelo Odebrecht disse que recorreu a inteferências de Mantega e até da então presidente Dilma Rousseff para liberar o financiamento para o estádio. No relato do ex-executivo da construtora, a Caixa Econômica inicialmente iria ser a repassadora do empréstimo para o Corinthians, mas a ex-presidente vetou e passou para o Banco do Brasil.
"(Dilma) Acha que a Caixa ia flexibilizar mais nas garantias. Imagine um banco que recebe isso. Os problemas que não tinham com a Caixa iam para o Banco do Brasil. Banco do Brasil encrencou. Vc fica o ministro da Fazenda, presidente do Banco do Brasil, quase 30 horas de reunião", contou Marcelo Odebrecht aos procuradores federais. Há reunião registrada entre ele, Mantega e Aldemir Bendine, então presidente do BB. Mas o banco, de fato, impediu a concessão do empréstimo por falta de garantias da construtora e do clube.
Depois, o ex-presidente da Odebrecht oferece para Mantega usar um crédito que teria a receber na Eletrobras para garantir o empréstimo da arena. Não dá certo. Assim, fracassa a negociação com o Banco do Brasil apesar da intermediação do ministro da Fazenda. Por isso, Marcelo Odebrecht diz ter pedido diretamente a Dilma Rousseff para resolver o problema no último trimestre de 2013.
"Aproveitei uma visita dela à Arena Fonte Nova, faltando um ano antes da Copa, não tinha saído o empréstimo. Presidenta, encontro rápido, pedia sala reservada, 'Só vai sair se a senhora der uma orientação de voltar para a Caixa resolver'. Acabou concordando. Mandou orientação para Guido (Mantega), e começou a construir com a Caixa Econômica. Caixa já não era a mesma Caixa. Já estava recebendo um pepino de volta. Demos garantia adicional de três ou quatro primeiros anos. Caixa aceitou a modelagem", concluiu ele no depoimento. Ele afirma em seguida que a Caixa é suscetível à pressão de cima. Em 2014, enfim, a Odebrecht recebeu o dinheiro do BNDES.
A discussão dos CIDs também era federal porque o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab teria recebido uma promessa de compensação da União, segundo Odebrecht. Os títulos se concretizaram apenas em parte apesar de gestões junto à prefeitura de São Paulo para tentar validá-los de qualquer maneira. Não houve compensação federal.
Odebrecht não tinha delatado inicialmente possíveis crimes na construção da Arena Corinthians. Mas, ao citar algumas dessas relações com a cúpula do governo, procuradores lhe apontaram que poderia haver crimes. Por isso, ele anexou novos depoimentos. "A quantidade de interface e de interralação… Em algum momento, você comete algo, pode ter alguma conduta. Teve exigências da Caixa. Estou contando como foi esse processo. Onde teve a conduta ilícita tem que ser apurado."
Há um inquérito sob sigilo no STF para apurar as condutas relacionadas à Arena Corinthians. Seu principal depoimento é do ex-executivo da Odebrecht Luis Bueno que relatou pagamentos de caixa 2 ao deputado federal Andres Sanchez.
O blog não conseguiu ouvir a defesa do ex-ministro Guido Mantega sobre a questão dos ingressos, nem sobre sua participação na modelagem do financiamento.
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