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Rodrigo Mattos

Seis acertos de Zé Ricardo que explicam o título do Flamengo

rodrigomattos

08/05/2017 04h00

Quatro horas após o título do Flamengo, Muricy Ramalho, penúltimo técnico do time, entra ao vivo para falar no Sportv sobre o trabalho de Zé Ricardo: "Pegou um time que não estava bem comigo e fez um excelente trabalho."

A sinceridade e correção de Muricy, que ressalte-se passava por um problema de saúde na época, mostram o tamanho do trabalho de Zé Ricardo durante um ano. Sim, o Flamengo tem um dos melhores elencos do país. Mas seu futebol dominante sobre o adversário, baseado em passes e aproximação dos atletas, é mérito do treinador.

Isso não significa que o Flamengo seja um esquadrão, imbatível. Não é, sequer é uma equipe pronta. Mas é um time que hoje tem mais qualidades do que defeito, uma cara e jogadores conscientes do que têm de fazer. Isso é mais importante do que um título do Estadual.  Veja como Zé Ricardo mudou o time em um ano.

Organização

Com Muricy, no início do Brasileiro-2016, o Flamengo jogava com uma linha avançada de quatro jogadores, o que deixava o time excessivamente exposto e sem jogo de meio-campo. O primeiro passo de Zé Ricardo foi recuar Arão para jogar ao lado de Márcio Araújo que foi mantido na principal formação.

O esquema com ponteiros foi mantido, mas Cirino foi trocado por Gabriel que voltava mais e dava consistência no meio e na defesa. De time sem padrão para se proteger, o Flamengo passou a se fechar com duas linhas de quatro quando se defendia, bem mais difícil de ser furado.

Jogo de passes

Zé Ricardo passou a dar ênfase na troca de passes e posse de bola para o Flamengo. O predomínio no número de jogadores no meio de campo foi uma chave para isso. Para isso, os jogadores de lado apareciam constantemente no setor para dar vantagem ao time.

Os laterais Jorge e Pará fechavam para o meio para se tornarem armadores em determinados momentos. Em outras situações, Gabriel e Éverton ocupavam esse espaço. Não ficavam alinhados e a ideia era ter três jogadores de cada lado, lateral, meio-campista e ponteiro. O time passou a ser dominante na posse de bola na maior parte dos jogos.

O fator Diego

Quando chegou o jogador mais cerebral no Flamengo, no meio da temporada, Zé Ricardo tinha que encaixa-lo no time. Ele deu menos obrigações defensivas (ele marcava, mas em menor intensidade) ao meia que podia sobrar das duas linhas de quatro jogadores, juntamente com Guerrero. O jogador ainda flutua para trás para carimbar as bolas do time.

Entende a natureza do Flamengo

Por ter sido formado no Flamengo, Zé Ricardo tem a percepção de que não é possível para o clube fazer um jogo de contra-ataque, nem fora, nem especialmente em casa. A torcida rubro-negra pressiona o time a jogar sempre para frente. Por seguidas vezes, ele repetiu que respeitaria essa realidade e faria sua equipe atuar de acordo com a natureza do clube. Na Libertadores, até fora o Flamengo tem sido ofensivo.

Não tem medo de contrariar a torcida

Em vários momentos, Zé Ricardo contrariou opiniões quase majoritárias da torcida do Flamengo. O maior exemplo é Márcio Araújo, que é um jogador com limitações ofensivas e que marca com eficiência. O treinador não só insistiu com ele como pediu a renovação do contrato baseado nos seus números positivos de desarmes, e o jogador tem sido eficiente nesta temporada inclusive na saída de bola.

Um outro exemplo é que trocou jogadores de renome como Juan pelo reserva Rafael Vaz por entender que este estava melhor. Independentemente de acertar ou errar, Zé Ricardo toma suas decisões baseado em suas convicções e nos números que dispõe para avaliar seus jogadores.

Inovações táticas

Após um fim de ano com queda de rendimento em 2016, Zé Ricardo precisava de alternativas para dar um salto no padrão de jogo do Flamengo. E não tem cansado de inovar em busca desse formato ideal que, diga-se, ainda não está consolidado.

Primeiro, botou Macuello do lado do campo – não deu certo. Depois, criou como alternativa a formação com três "volantes" no jogo contra a Universidade Católica que, na verdade, é bem ofensiva. Assim, aumentou seu domínio da posse de bola, tornando o time mais ofensivo. Em seguida, criou a alternativa com dois laterais para dar velocidade e reforçar a marcação, seja na direta com Pará e Rodinei, seja na esquerda com Trauco e René. Assim, supera desfalques e cria desequilíbrio nos adversários.

 

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.