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Rodrigo Mattos

Selvageria em São Januário era uma tragédia anunciada e não tem desculpa

rodrigomattos

09/07/2017 04h00

Derrota para o rival confirmada, membros da torcida do Vasco tentaram invadir o campo, se confrontaram com policiais e jogaram bombas no campo. A confusão chegou a ameaçar jogadores que estavam no gramado que tiveram de sair de correndo para o vestiário. Fora do estádio, uma morte. Ao final, Eurico Miranda pede desculpas, mas diz que não significa que São Januário não pode receber clássicos.

Não poderia estar mais equivocado: é até óbvio que o estádio não poderia ter recebido o jogo entre Flamengo e Vasco. Já não deveria ter sido palco do Corinthians e Vasco no final de 2015, mas, por sorte, o nível de confusão naquela ocasião (houve algumas) foi ao menos tolerável. Não desta vez.

A rivalidade entre os dois times é a mais explosiva e São Januário tem condições complicadas de acesso para as torcidas e para controle delas em situações tensas. Havia ainda um histórico recente de confusões no estádio dentro da própria torcida vascaína, com brigas frequentes. O clima entre parte dos torcedores vascaínos já era de revolta com a atual diretoria.

Era um caldeirão preparado para estourar em caso de uma derrota cruzmaltina, algo bem possível diante do desnível técnico entre os dois times. Não dá para aceitar em nenhum lugar do mundo que a derrota do time da casa transforme o estádio em clima de guerra.

O governo do Estado do Rio tem responsabilidade no episódio pela letargia com que lida com a questão do Maracanã. Estivesse o estádio em funcionamento e viável: o clássico possivelmente seria realizado por lá. Na verdade, era o que deveria ser imposto pelas autoridades de segurança.

O pedido de desculpas de Eurico é insuficiente. Não trata das falhas de segurança que proporcionaram uma enorme quantidade de bombas a serem lançadas no campo. A PM tem culpa, mas o clube é responsável legalmente pelo planejamento de segurança no jogo.

Não trata do fato de jogadores, árbitros e jornalistas terem sido expostos à selvageria.  Ao final, foca em uma insinuação de que uma armação política gerou a confusão. Sem nenhuma prova ou indício de que isso seja real. Será que a família do torcedor vascaíno morto aceita esse tipo de explicação?

Eurico, ressalte-se, não é o responsável direto pela briga, mas errou feio ao marcar o jogo em São Januário. A culpa principal é dos vândalos que transformaram uma derrota para o rival em uma mancha para a torcida do Vasco, em uma provável perda de mando de campo e em uma ameaça à campanha vascaína, baseada em jogos em casa. Pior, a confusão provocou uma morte no portão externo. Não há outra solução moral para o STJD além de fechar São Januário por um longo tempo.

Esse não é o único dano para o Vasco. Imagine o impacto das imagens da briga para o torcedor jovem vascaíno que pensava em ir ao estádio apesar dos problemas? Veja a imagem do torcedor carregado pelo colega Pedro Ivo, do UOL, retirado da arquibancada com gás de pimenta nos olhos. Será que essa criança vai querer voltar a São Januário? Não há desculpas que vá fazer ele esquecer o que ocorreu.

 

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.