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Rodrigo Mattos

Relatórios da CBF minimizam problemas em brigas em São Januário

rodrigomattos

11/07/2017 04h00

Relatórios da CBF sobre jogos em São Januário minimizaram os incidentes de brigas no estádio. Isso ocorreu em jogos anteriores e no clássico com o Flamengo em que foram ignorados alguns episódios. Esses documentos foram produzidos pelo diretor de competições da Ferj (Federação de Futebol do Rio de Janeiro), Marcelo Vianna. Ele afirmou não ter visto problemas de segurança no local antes do sábado e disse ter relatado os incidentes que viu.

Não houve nenhuma restrição da confederação ao clássico com o Flamengo no local escolhido pela diretoria vascaína. Pelo Estatuto do Torcedor, o Vasco é o responsável por garantir a segurança de jogos em que é mandante.

Já a CBF marca os jogos da competição, responde solidariamente por danos ao torcedor e é a responsável pelo plano de segurança da competição. Trata-se de um documento genérico de 16 páginas sem instruções específicas. O plano de ação fica por conta da Ferj, feito em reunião com autoridades de segurança.

Questionado, por meio de assessoria, Marcelo Vianna, da federação, afirmou não ter visto problemas de segurança no estádio antes do clássico: "Não encontrei. Diversas partidas foram realizadas de várias competições em São Januário sem verificação de ocorrências. Compete ao delegado as observações se o clube está cumprindo as normas dos regulamentos das competições e do estatuto do torcedor."

Pois bem, a CBF institui relatórios de todos os jogos em 2017 para avaliar as condições dos estádios. No caso de São Januário, todos os documentos foram produzidos por Marcelo Vianna. Nesses, ele minimizou brigas anteriores.

Diante do Corinthians, houve tumultos por confronto entre torcedores que protestavam contra o presidente vascaíno, Eurico Miranda, e seus apoiadores, sejam seguranças ou outros torcedores. O confronto foi generalizado como mostram os vídeos. "Após a partida, houve início tumulto na arquibancada onde estava localizada a torcida do clube mandante (curva da arquibancada) que foi rapidamente contornado pela Polícia Militar", relatou Vianna.

Depois, na partida contra o Avaí, houve um apagão e novos protestos contra Eurico Miranda, seguidos de agressões. Houve tiros de balas de borracha e até a necessidade de divisão no meio da torcida para evitar mais briga.

Mas Vianna atribuiu o problema à política do clube e disse que a PM manteve a ordem: "Durante a paralisação da partida grupos políticos de segmentos contrários protestaram no anel da arquibancada. A Polícia Militar realizou intervenção, mantendo a ordem e organização no interno do estádio. Com o reinício da partida, tudo transcorreu sem incidentes até o encerramento. Não havendo registro de nenhuma anormalidade."

Pela assessoria, Vianna afirmou ter relatado o que viu e que a CBF recebeu as informações: "Nos jogos citados contra Corinthians e Avaí, ocorreram situações na arquibancada, assinaladas na súmula do jogo e também no relatório. Isso ficou (e está) à disposição das autoridades desportivas e da entidade organizadora do campeonato para avaliação dos fatos."

O relatório sobre o jogo entre Flamengo e Vasco, também de Vianna, menciona bombas e correria na torcida vascaína, mas, de novo, ignorou alguns dos graves acontecimentos. Ele não cita o fato de jornalistas terem sido ameaçados por torcedores de agressão dentro da cabines invadidas, nem que os jogadores do Flamengo e arbitragem tiveram que sair correndo para deixar o campo sob bombas da torcida do Vasco. Também não mencionou que o gás de pimenta afetou os atletas.

"Após término da partida, na proporção de estádio destinado à torcida mandante.Houve confronto entre torcedores, com intervenção da polícia, diversas bombas entre outros objetos foram atirados para dentro de campo, impossibilitando a saída para o vestiário da equipe de arbitragem e jogadores da equipe visitante, ocasionando intensa correria no anel da arquibancada. Após a intervenção da polícia militar, com a utilização de bombas de efeito moral e gás de pimenta, todos puderam deixar o campo de jogo. após chegada ao vestiário, não foram produzidos fatos, ruídos ou ameaças nas proximidades do vestiário."

Não foi relatado nenhum problema nas instalações de imprensa do estádio. Quase todos os itens do estádio foram marcados como ok nos documentos.

Após a confusão, a decisão do STJD determinou falha estrutural do estádio: "O Vice-Presidente (Paulo César Salomão Filho) destacou ainda uma falha gritante na infraestrutura do estádio devido ausência de barreira para obstruir a passagem de torcedores ao local destinado aos profissionais de imprensa que impeça o contato entre os mesmos e as cabines de rádio e televisão", diz a nota do STJD. Jornalistas foram atacados por torcedores dentro da cabine.

Segundo Vianna, não cabe ao delegado verificar falhas estruturas, o que deveria ser feito pela comissão nacional de estádios da CBF.  Sem verificar nenhum problema em São Januário, a CBF aprovou a realização do clássico contra o Flamengo no local.

Após a briga generalizada, bombas e uma morte do lado externo, a CBF impediu torcedores de irem ao estádio nos próximos jogos. Seu presidente Marco Polo Del Nero defendeu à "Folha de S. Paulo" uma punição por dez anos para os torcedores, sem mencionar medida prática da entidade para resolver a questão da violência. Ele está há cinco anos na CBF.

"A responsabilidade é de quem é o mandante do jogo e de quem organiza a competição. Entendo que responde juntamente com o clube. Um torcedor que sofrer prejuízo pode demandar o clube e a CBF", explicou o advogado Carlos Eduardo Ambiel. "O fato de haver brigas não signitiva que houve omissão. Às vezes pode-se se tomar todas as providências e haver conflito. Isso tem que ser apurado."

O blog fez perguntas para a confederação sobre os relatórios sobre São Januário, e sobre os planos de segurança do Brasileiro. A CBF informou que "o plano de ação de cada partida é elaborado pela Federação estadual mandante da partida junto com as autoridades de segurança. A Ferj elaborou, como sempre faz, o plano de ação da referida partida."

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.