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Rodrigo Mattos

Documentos espanhóis apontam organização criminosa de Teixeira contra CBF

rodrigomattos

25/07/2017 04h00

Os documentos da Justiça espanhola apontam uma 'organização criminosa' composta por sete pessoas para desviar dinheiro da seleção brasileira. São esses papéis que foram requisitados pela Procuradoria Geral da República nesta segunda-feira para poder processar o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira. Ele é um dos acusados no processo e contra quem há uma ordem de prisão internacional.

O blog pesquisou diversos documentos da Justiça Espanhola para explicar as informações que chegarão ao Brasil contra o ex-cartola. A principal acusação é de formação de organização criminosa para lavar dinheiro procedente da venda de amistosos da seleção. O crime de lavagem é previsto na legislação brasileira e por isso Teixeira poderá ser processado por aqui.

Em documentos públicos, a Justiça da Espanha usou apelidos para envolvidos para mantê-los no anonimato. Teixeira foi chamado de Juan Pablo, Pio e Eusebio. Outros também ganharam apelidos em decisões sobre prisões de envolvidos.

O esquema relatado começa em 24 de novembro de 2006 quando foi assinado o contrato entre a CBF e a ISE (International Sports Events) para venda de 24 amistosos da seleção brasileira em dez anos. Um dia antes foi assinado o contrato entre a empresa ISE e a Uptrend Developments, com sede em Nova Jersey, para intermediar um acordo com a confederação brasileira. Receberia por isso 8,4 milhões de euros.

A Justiça Espanhola classifica que esse último contrato "não correspondia à realidade" porque a empresa não tinha estrutura para intermediar a relação entre CBF e ISE. Oito meses antes, foi fundada uma empresa chamada Fundación Regata, no Panamá, que é a sócia da Uptrend e de propriedade de Sandro Rosell, ex-presidente do Barcelona e amigo de Teixeira. Era essa Fundácion Regata a responsável por transferir dinheiro recebido pelos jogos da seleção para a Europa.

O dinheiro entrava no continente europeu por meio de contas em Andorra, operadas pelo espanhol Joan Besolí. Era ele que distribuía o dinheiro para contas ou cartões de crédito de Teixeira e Sandro Rosell, apontados como cabeças da operação. Foram utilizadas ainda as empresas Itasca, BSM e Sports Investments Offshore (SAL) para supostamente lavar o dinheiro, segundo a Justiça Espanhola. Países como Líbano, Panamá, EUA, Espanha e Andorra tiveram passagem do dinheiro da seleção.

No total, o valor desviado da CBF foi maior do que o presente no contrato com a Uptrend, de acordo com a acusação. Os documentos espanhóis apontam que Teixeira ficou com 8,4 milhões de euros e Rosell, com 6,6 milhões de euros. Além dos dois, outras cinco pessoas participaram da operação de lavagem de dinheiro. Ou seja, um total de R$ 55 milhões foi tirado do futebol brasileiro.

"No momento, esses feitos têm aparência de delito, sem prejuízo de qual qualificação jurídica exata mereçam, porque se descreve um concerto de pessoas para se apropriar de quantidades de dinheiro que não pertenciam a eles, pois justificam a recepção dessa por prestação de serviços que não prestaram em prejuízo de um terceiro, a CBF, que não tem consciência do delito que produzem, e desse prejuízo por um acordo que desconhece, mas o prejuízo se percebe porque a CBF vendeu algo para um comprador que pagou muito mais dinheiro do que ela recebeu, e essa diferença se apropriaram os outros, presumivelmente os investigados, sem conhecimento nem consentimento e em seu prejuízo", diz um dos documentos espanhóis.

Ao saber da ação, a CBF mandou uma carta para dizer que não tinha sofrido prejuízo e que desconhecia o contrato da Uptrend. Assim, aliviria a situação de Teixeira e até de seu presidente Marco Polo Del Nero, que tem conhecimento do contrato e nada fez até agora. Esse acordo continua em vigor.

Nenhum dos acusados até agora negou ter ganho dinheiro com a seleção. Em sua defesa, Rosell alega que o que praticou não é crime porque a CBF não recebe dinheiro público. Portanto, o recurso recebido não teria origem ilícita. Por isso, não teria havido lavagem de dinheiro. Juízes não aceitaram essa argumentação e o mantiveram na prisão.

Embora ainda não tenha acesso ao processo, o advogado de Teixeira, Michel Asseff Filho, também alega que a CBF não recebe dinheiro público e que essa premissa da acusação é equivocada. Ainda não tratou do mérito porque ainda não teve acesso aos documentos. Isso vai ocorrer justamente quando o processo chegar ao Brasil. Serão procuradores do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro que decidirão sobre a acusação a Teixeira no Brasil.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.