Mesmo com Rueda, Brasileiro é a liga que menos contrata técnico estrangeiro
A contratação do técnico Reinaldo Rueda pelo Flamengo gerou um novo debate sobre a presença de técnico estrangeiro no país. Isso porque o treinador Jair Ventura, do Botafogo, defendeu que sua chegada era ruim para os brasileiros, embora tenha mudado o tom após a repercussão. Não é à toa essa discussão: o Brasileiro é a liga de elite que mais rejeita contratar comandantes estrangeiros para seu times.
O blog fez um levantamento em oito dos principais campeonatos pelo mundo, Argentina, México, Espanha, Alemanha, Inglaterra, França, Itália e Brasil. Em todos, há um maior número de treinadores de fora do país na primeira divisão do que no Brasileiro da Série A.
Antes de expor os números, vamos entender o que disse Jair Ventura sobre a chegada de Rueda: "Para o mercado isso é muito ruim, porque parece que não temos profissionais capacitados para trabalhar dentro do nosso país. Isso é muito ruim para a gente que está começando". Em seguida, ele afirmou que entendia ser legítimo que um clube contratasse estrangeiro para seu banco.
Nem precisaria pedir por uma reserva de mercado para técnicos no Brasil. Na prática, ela já existe. Contratado neste semana, Rueda se tornou o único treinador da Série A do Nacional no momento, o que representa 5% do campeonato. Há exemplos de outros treinadores recentemente, mas nenhum perdurou.
Na Premier League, campeonato com mais dinheiro do mundo, 16 dos 20 técnicos não nasceram na Inglaterra. Ou seja, um total de 80%. Todos os times de ponta têm técnicos estrangeiros, o Manchester United com Mourinho, o City, com Guardiola, o Chelsea, com Conte e por aí vai.
Na Bundesliga, onde há uma escola forte de formação de treinadores, oito dos 18 técnicos são estrangeiros, sendo um deles meio italiano, meio alemão. Assim, são 44,4% de técnicos de fora. Na Espanha, esse percentual é menor com 25%, quatro em 20 do total. O atual campeão Real Madrid se inclui com o francês Zidane.
A Itália, que tem uma cultura tática muito forte, tem um percentual bem menor, próximo ao Brasil. São dois técnicos em 20 clubes, sendo um deles Mihajtovic, sérvio com cidadania italiana que dirige o Torino. Mas a França também tem boa aceitação de estrangeiros com 25% dos 20 treinadores, inclusive nos clubes de maior investimento, Paris Saint-Germain e Monaco.
Nas Ligas Mexicana e da Argentina, também há mais presença de treinadores de fora. No México, são sete de 18 treinadores, quase 40%. Na primeira divisão da Argentina, o cenário é mais parecido com a Itália com 3 dos 28 técnicos, isto é, 10%.
E isso ocorre porque há maior qualificação dos treinadores brasileiros? Não necessariamente. Há dois cursos da CBF e da Associação Brasileira de Treinadores de Futebol, ambos sem a chancela da Conmebol e sem equiparação com a UEFA. Portanto, não são válidos em outros países e os brasileiros têm que fazer cursos no exterior para dirigir times de fora.
Por imposição da Fifa, a confederação ficou responsável por qualificar os treinadores e vai exigir a licença do seu curso a partir de 2019 para treinadores da Série. A confederação tenta conseguir que sejam reconhecidos.
O próprio Jair Ventura não tem a licença A da CBF ainda. Ele fez os cursos infantil e de base, e está em andamento com o de nível A. Faltará ainda o nível Pro. Isso, obviamente, não o desqualifica como técnico. Até porque reportagem recente da "Folha de S. Paulo" mostrou que ele e outros oito técnicos da Série A buscavam o diploma, enquanto outros 11 não os tinham nem faziam o curso.
"NA ABTF, buscamos um curso com a grande paralelo ao feito em Portugal. Buscamos a chancela da Conmebol. Mas, quando a Fifa determinou que as ligas fiscalizassem, um grupo da CBF nos alijou e simplesmente começou um curso. Isso é monopólio", reclamou o presidente da associação, Zila Cardoso. "A CBF buscou fazer tem uns três ou quatro anos. A Argentina já tem chancela e foi feito pela associação de treinadores deles."
De fato, o curso argentino é aceito na Europa. Entre os técnicos brasileiros que têm o curso completo da UEFA está Milton Mendes, do Vasco. Uma das reclamações de Jair Ventura foi justamente essa, de que o curso da CBF não permitirá que ele possa trabalhar no exterior.
Rueda, que chega agora ao Brasil, trabalhou como instrutor da Fifa na escola de treinadores da Colômbia e em seminários da entidade e da Conmebol, além de ter estudado em universidade na Alemanha. Para trabalhar no país, só precisa de visto de trabalho e registro na CBF, o que é simples.
Por meio de nota ao blog, a assessoria da CBF se manifestou dizendo que está tomando medidas para habilitar seu curso de treinadores, obtendo o reconhecimento internacional:
"A CBF tem como prioridade o reconhecimento das licenças de treinador expedidas pela entidade, devidamente chanceladas pela Conmebol, dentro dos mais rigorosos critérios adotados no mundo.
Sob esta perspectiva, mantém há mais de um ano contínua interlocução com a Conmebol e FIFA, que tem se mostrado interessadas na resolução do pleito.
No dia 8 de agosto, foram aprovadas pelo Conselho da Conmebol todas as providências necessárias para obtenção destas habilitações no cenário internacional.
Como resultado destes movimentos, o tema foi pautado com destaque para a próxima reunião dos Diretores de Desenvolvimento das entidades continentais, a se realizar nos dias 23 e 24 de agosto, na sede da FIFA."
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