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Rodrigo Mattos

Corinthians aumenta títulos em período de boom de receitas no futebol

rodrigomattos

18/11/2017 04h00

O período de domínio do Corinthians coincide com o boom de receitas do futebol brasileiro. O clube ganhou seis Brasileiros, uma Libertadores e dois Mundiais nos últimos 20 anos. Foi justamente em 1997, há 21 anos, que os times brasileiros assinam o primeiro grande contrato de televisão e que crescem os investimentos de parceiros externos.

Durante esses 20 anos, o Corinthians foi em boa parte dos anos o clube mais rico ou aquele que tinha a maior quantidade de dinheiro para contratações. Talvez, 2017, seja o único título em que o Corinthians não tinha o maior volume de dinheiro em relação aos rivais, ainda assim, estava entre os mais ricos.

Naquele longínquio 1997, o Clube dos 13 assinava um contrato de três anos com a Globo para o televisionamento do Brasileiro. Em valores atualizados, eram R$ 250 milhões. A partir daí, cinco times, Corinthians, Flamengo, Palmeiras, São Paulo e Vasco tinham cotas superiores aos demais, e a receita de TV passava a ser a principal em relação às outras.

Ao mesmo tempo, o Corinthians passou a ter parceiros. Primeiro, o Banco Excel e depois a Hicks Muse. Ambos proporcionaram ao clube a chance de montar o melhor time destes 20 anos, com elenco estrelado de Luizão, Rincón, entre outros. O time foi bicampeão nacional, além do Mundial de 2000. Outros times tiveram parcerias como o Flamengo e Grêmio (ISL), mas não souberam aproveitar os recursos para ganhar títulos significativos.

Sem a parceria, o Corinthians não era o clube mais rico do Brasil. Era o São Paulo que ocupava esse posto em 2003. O time de Parque São Jorge tinha uma receita de R$ 119 milhões (em valores atualizados pela inflação à época). E seguiu assim nos anos seguintes, abaixo do rival que era impulsionado por vendas de atletas e pelo Morumbi.

Com a chegada da MSI, o Corinthians voltou a ser o clube com maior investimento no Brasil. Se olharmos pra o dinheiro em caixa, o São Paulo era mais rico. Mas a MSI colocou valores que superavam muito os disponíveis para o rival. E a agremiação do Parque São Jorge foi campeã do Brasileiro em 2005. Era o campeonato de pontos corridos que favorece os times mais fortes, reduzindo surpresas.

A crise financeira e política resultante dos problemas com a MSI levou ao rebaixamento em 2007. As receitas de televisão, no entanto, continuavam a subir, atingindo R$ 405 milhões por ano no contrato da Globo de 2008. Em 2011, o ex-presidente Andrés Sanchez liderou a implosão do Clube dos 13, o que resultou em deixar Flamengo e Corinthians isolados em patamar mais alto de TV. Aliado a isso, conseguiu aumentos de receitas de marketing com contratos de publicidade.

Por conta desses movimentos, o Corinthians já se tornara o clube com maior faturamento do país em 2009 e se consolidou nesta posição até 2012. Ganhou um título brasileiro, a Libertadores, e o Mundial de Clubes.  Perdeu o posto para o São Paulo apenas por conta da venda de Lucas em 2013.

Só a partir de 2014 que as finanças do clube começaram a ser abaladas pela construção da Arena Corinthians e por dívidas por conta gastos excessivos no futebol. O clube manteve o investimento em alta, o que possibilitou a montagem de um bom time para ser campeão brasileiro em 2015. Em 2016, o Corinthians continua a ter receitas altas, com R$ 485 milhões em 2016, atrás apenas do Flamengo e junto do Palmeiras. Isso representa o quádruplo do valor de 2003 em crescimento real acima da inflação.

Só que, em paralelo, ocorreu também um aumento significativo das dívidas do clube. Em 2003, o Corinthians tinha o menor débito entre os 12 grandes do Brasil, e atualmente tem o maior se consideramos a Arena Corinthians. Neste ano, de novo, operou em prejuízo o primeiro semestre para poder montar o time campeão. Pode ser que recupere-se até o final do ano com as rendas do título.

O boom de receitas no futebol brasileiro não é, obviamente, a única explicação para o crescimento de títulos corintianos. Pelo menos desde 2009, com Mano Menezes, o clube implantou método de trabalho sólido no departamento de futebol, mesmo com a troca de técnicos. Há uma linha, um tipo de jogo.

É por isso também que o clube aproveitou melhor o boom de receitas do que clubes como o Flamengo. No caso rubro-negro, a década passada foi afetada pelo endividamento resultado das loucuras dos anos 90. Só nos últimos anos foi controlado, mas não se transformou em resultado esportivo. O São Paulo, outro time com maior volume de receitas, teve um período vitorioso até se envolver em crises políticas.

Em 2019, o contrato de televisão valerá R$ 1,1 bilhão, o dobro daquele de 10 anos antes. Somados aos pontos corridos, isso tende a aumentar a importância das receitas nos resultados, embora não sejam determinantes como se viu este ano. No caso corintiano, resta ver como o clube vai lidar com seus problemas financeiros para se manter vitorioso como nos últimos 20 anos.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.