Del Nero reproduz, no futebol, situação de Temer no governo
Acossado por denúncias nos EUA, o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, cada vez tem uma situação mais parecida com a do presidente da República, Michel Temer. Ambos são alvos de acusações graves de corrupção e ainda se mantêm inatingíveis por aliados e leis. Adotam discursos reformistas, mas repetem velhas práticas do país.
Primeiro, vamos ao que gerou a crise para o cartola e o político. A Procuradoria Geral da República acusou Michel Temer, em duas denúncias, de casos de corrupção. A segunda delas o apontou como participante de esquema para obter propina em contratos da Petrobras, juntamente com a cúpula do PMDB.
Temer não se tornou réu e nem pode ser julgado porque o Congresso não autorizou. Sem isso, seu caso não pôde ser analisado pelo STF, nem ele teve de afastar da presidência.
O Departamento de Justiça dos EUA, correspondente à procuradoria brasileira, apontou que Marco Polo Del Nero recebeu propinas por contratos da CBF e da Conmebol. Ele foi indiciado nos inquéritos por crimes de fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e conspiração.
Só que, para ser julgado, Del Nero precisa estar nos EUA. A partir do momento em que José Maria Marin foi preso, ele não saiu mais do país. Assim, seu processo em Nova Iorque foi congelado, apesar de ele aparecer citado por diversos delatores no julgamento.
A Fifa ainda deixou em banho maria o processo no Comitê de Ética que poderia atingi-lo. Internamente, no Brasil, os presidentes de federação que compõem o poder na CBF aceitaram as explicações de Del Nero e não o importunaram com pedidos de impeachment.
Na política tradicional, para barrar as denúncias, Temer distribuiu aprovações de verbas para emendas parlamentares para garantir os votos no Congresso. Logo após as delações da semana passada, Del Nero prometeu a presidentes de federações que levaria todos os 27 cartolas em um trem da alegria para a Copa da Rússia-2018. Era uma demanda dos dirigentes.
O presidente da República tem uma discurso de reformas, seja a trabalhista já aprovada ou a da previdência em curso. A segunda tem como objetivo conter gastos, mas, ao mesmo tempo, ele perdoou diversas dívidas de setores industriais e agrícolas por lobby no Congresso.
Já Del Nero entrou na CBF com a promessa de modernizá-la. Prometeu o licenciamento de clubes que regularia o mercado, evitando problemas nas contas, e um código de ética, com maior poder para os clubes dentro da CBF. Na prática, seu licenciamento tem regras frouxas que não obrigarão os times a evitar a gastança, o código de ética foi modificado por interesses particulares e o novo estatuto da confederação tirou poder das equipes em favor de federações.
Para completar, tanto Temer quanto Del Nero se protegem das denúncias desviando foco para supostos feitos de sua gestão. O presidente da República fala em crescimento e contenção da inflação. Em discurso às federações, Del Nero assume para si méritos pela boa fase do time Tite.
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