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Rodrigo Mattos

Em venda de Jô, Corinthians pagou comissão que é o triplo da média da Fifa

rodrigomattos

17/01/2018 04h00

O Corinthians pagou comissões para agentes na transferência de Jô que representam o triplo do percentual médio em operações similares analisadas pela Fifa. A remuneração dos agentes é ainda 10 vezes maior do que o percentual recomendado pela entidade em suas normas. Não há, no entanto, irregularidade pela legislação.

O caso foi revelado pelo blogueiro do UOL, Juca Kfouri. O centroavante corintiano foi negociado com o Nagoya Grampus por R$ 31,9 milhões, sendo que R$ 9,570 milhões foram em comissões para empresários. Quem ficou com a maior parte foi o agente Giuliano Bertolucci, que representa o jogador. A comissão total foi, portanto, de 30% do total da transação e isenta de impostos.

Pois bem, relatório recente da Fifa sobre empresários e agentes mostrou que a comissão média para transferências grandes é de 5,2% sobre o total no caso dos agentes de clubes compradores, e 5,4% no caso dos times vendedores. Ou seja, somadas, as comissões dos dois times dariam um percentual médio de 10,6%, cerca de um terço da fatia que o Corinthians destinou aos agentes. Esse percentual vale para negociações acima de US$ 5 milhões como é o caso de Jô.

O relatório da Fifa é bem abrangente e inclui negociações desde 2013 até o final de 2017, portanto, por cinco anos. Pelo seu levantamento, há comissões discrepantes, o que joga às vezes, o percentual médio para em torno de 7% para cada agente. Mas só se atinge quase 30% com transferências de valores pequenos, abaixo de US$ 1 milhão.

Os percentuais descritos no relatório já fogem do previsto pela Fifa em sua legislação. Pelo regulamento de intermediários da entidade, a comissão recomendada a agentes de clubes deveria ser de no máximo 3% da transação. Ou seja, neste caso, o Corinthians extrapolou em dez vezes a recomendação da federação internacional.

Advogados consultados pelo blog ressaltaram que não há irregularidade ou ilegalidade na operação feita pelo Corinthians na venda de Jô. Mas, sem quererem se identificar, reconhecem que o percentual é discrepante com o mercado que costuma atingir no máximo 15% ou 20% em percentuais mais altos.

Uma prática comum relatada por advogados é que clubes têm usado as comissões muitas vezes para disfarçar direitos econômicos. Isso porque a posse por terceiros de direitos sobre a venda de jogadores foi proibida pela Fifa. Assim, algumas agremiações inflam comissões para poder pagar por direitos.

Neste caso, pode haver uma investigação da CBF se houver indício de simulação. Mas não existe nada de apuração na confederação em relação à operação até o momento.

Outro ponto que chama a atenção é que, segundo a Fifa, os clubes que contratam costumam pagar comissões mais altas do que os que vendem. No caso da negociação de Jô, Bertolucci, que é agente de Jô, recebeu R$ 6,4 milhões, enquanto o representante do Nagoya ficou com um percentual menor.

O Corinthians informou que não comentaria sobre as comissões da negociação de Jô para o Japão.

Colaborou Dassler Marques

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.