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Rodrigo Mattos

Vasco cria a 'fake democracia' e ignora voz dos sócios

rodrigomattos

20/01/2018 04h00

A eleição de Alexandre Campello não é ilegal, mas é um tapa na cara do sócio vascaíno que foi as urnas. A voz do associado do clube foi ignorada em favor de artimanhas e alianças de bastidores. Um processo anti-democrático fruto de um estatuto atrasado que trava o clube, praticamente uma "fake democracia" controlada por Eurico Miranda.

Lembremos: a eleição no Vasco é indireta. Elege-se primeiro uma chapa vencedora que depois será referendada pelo Conselho Deliberativo. Pelo menos sempre foi assim: com a voz do sócio, indiretamente, sendo respeitada. Após disputas na Justiça, Julio Brant seria o vencedor.

Ao abandonar a chapa de Julio Brant, Alexandre Campello e Roberto Monteiro quebraram essa lógica. Os votos que seus conselheiros receberam, no entanto, foram por uma mudança no atual quadro do Vasco, com a saída de Eurico Miranda. Em vez disso, eleitos, traíram não Brant, mas os seus eleitores ao seus associarem a Eurico para ganharem a eleição a presidente.

Ora, como se sente o sócio vascaíno que foi votar em novembro? Como um trouxa cuja vontade foi ignorada pelos poderes do clube, como uma pessoa que só está ali para dar dinheiro e legitimar os poderosos. Já que o real poder está apenas na urna do Conselho Deliberativo, na sede Náutica do clube.

A eleição direta deveria ser uma norma em todos os clubes brasileiros. Os pleitos indiretos são excrescências do passado ainda mantidos em times como o São Paulo e Atlético-MG, entre outros. Permitem que a voz de quem sustenta o clube, pelo menos que fosse ouvida pelo associada, seja ignorada em prol de acordos políticos.

Difícil saber o que será uma gestão de Alexandre Campello visto que o que vimos até agora é que não ser seu forte cumprir acordos e respeitar urnas. Difícil saber também qual a influência que Eurico manterá no Vasco, embora alguma seja certa – ficou com o Conselho Fiscal inteiro composto por aliados. Um sinal é de que seu nome foi gritado quando Campello foi eleito, sendo que o vencedor só foi lembrado depois.

Certo é que o Vasco demonstrou ser um clube anti-democrático, e apegado a regras do passado que não funcionam mais há muito tempo na sociedade moderna. Independentemente de nomes, não dá para acreditar em uma melhora na sua gestão se não mudar essa realidade.

PS Em sua entrevista ao final da eleição do Vasco, Eurico Miranda chamou o UOL de fake news. O blog agradece, portanto, ao ex-presidente vascaíno pela inspiração para o título deste post.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.