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Rodrigo Mattos

CBF retém e administra 20% do dinheiro da Copa do Brasil

rodrigomattos

01/02/2018 04h00

Na renovação do contrato da Copa do Brasil, a CBF anunciou com estardalhaço que pagaria uma premiação de R$ 50 milhões ao campeão. O que a  entidade não informou é que iria administrar ou reter um valor considerável do contrato assinado com imagem dos clubes. Há um montante que pode chegar a R$ 76,7 milhões que serão geridos pela entidade e seus parceiros, em torno de um quinto do total.

A CBF fechou contrato com a Globo de R$ 325 milhões, de acordo com apuração do blog. É em torno do triplo do valor anterior. Esse acordo só se refere aos direitos de televisão, e não às placas publicitárias em volta do campo que são negociadas pela Klefer.

Pois bem, em ofício no final do ano passado, a confederação explicou que ao final da competição "terá distribuído mais de R$ 300 milhões aos clubes participantes, incluindo toda a logística da competição – reajuste de 200% em relação à edição 2017". A CBF não especifica o valor do custo, mas é certo que uma fatia ficará em seus cofres.

A soma total de todas as cotas e premiações previstas pela CBF para 2018 é de R$ 278,290 milhões. Isso se consideramos o cenário com maiores gastos com todos os times da Série A e mais bem ranqueados avançando à segunda fase. Explica-se: nas fases iniciais, clubes de elite ganham cotas maiores.

Assim, sobrariam R$ 46 milhões para a CBF e para os custos da competição. Mas os gastos com a Copa do Brasil são basicamente passagens e hospedagens para um time visitante. Para usar todo esse dinheiro, a confederação teria de usar R$ 328 mil para cada um dos 140 jogos da competição. Esse valor é muito superior a passagens para viagens de um elenco e trio de arbitragem.

Mesmo se a logística só custar R$ 22 milhões, atingindo o total de R$ 300 milhões, cada partida sairia por R$ 154 mil. De novo, é um montante bem superior a viagens de um elenco e árbitros.

Quem opera as viagens da CBF costumam ser empresas de Wagner Abrahão, empresário ligado a Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero e acusado de inflar gastos com viagem. Seu nome está envolvido em negócio com Del Nero com quem até trocava e-mails sobre contratos de patrocínio da confederação.

Por fim, as placas da Copa do Brasil são vendidas a parte pela Klefer. Um contrato obtido pelo blog para um cota de placa para 2017 apontava que cada cota era negociada por valores em torno de R$ 6 milhões. E eram cinco cotas. Ou seja, os ganhos podem chegar a R$ 30 milhões se tudo for negociado. Não se sabe qual a fatia para a confederação e qual para a empresa.

Somados todos os valores que não vão diretamente para os clubes devem atingir até R$ 76,7 milhões. Isso não significa que esse dinheiro ficará todo com a CBF. Mas a entidade que administra a quantia junto com seus parceiros, inclusive no pagamento de despesas da competição. Isso representa em torno de 20% dos ganhos da competição.

Em seu último balanço, a confederação não explicitou qual o custo real da organização da Copa do Brasil. O blog questionou a entidade sobre os custos de organização da Copa do Brasil e quanto fica nos seus cofres, mas a entidade se recusou a responder a essas perguntas.

"A CBF informa que os contratos relativos a competições contém cláusulas de confidencialidade que impedem a divulgação de valores. A entidade destaca ainda que é responsável pelo custeio integral da Copa do Brasil", respondeu a confederação.

Para efeito de comparação, a UEFA detalha que destina 12,5% do dinheiro da Champions League para a organização da competição. Seus custos, no entanto, são bem mais altos, pois conta com funcionários operadores em todos os jogos e veste os estádios com as propriedades de marketing da competição, entre outros pontos. A final é uma megaprodução que não se compara à decisão da Copa do Brasil.

Mais, outros 8% da Liga dos Campeões são destinados a mecanismos de solidariedade, isto é, distribuído para clubes ou entidade mais pobres do continente.

 

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.