Após veto da Fifa, fundo de atletas tem R$ 80 mi e time de 3ª divisão de MG
Um fundo para investimento de jogadores continuou a operar por meio de um clube da terceira divisão de Minas Gerais mesmo após o veto da Fifa à participação de terceiros em direitos de atletas. O fundo BR Soccer mantém patrimônio de R$ 80 milhões, segundo seus documentos. Há uma ligação do fundo com executivos do BMG, mas a empresa nega qualquer participação no negócio.
O fundo BR Soccer começou a operar em 2009 com registro na Comissão de Valores Mobiliários. Indiretamente, passou a ter o controle sobre o clube Coimbra, da terceira divisão de Minas Gerais. No auge do fatiamento de atletas, comprava direitos até de jogadores de seleção como o zagueiro Marquinhos, hoje no Paris Saint-Germain, e focava parcerias com Cruzeiro, Atlético-MG e Corinthians.
Em 2015, a Fifa vetou a participação de terceiros em direitos de jogadores. Assim, o fundo BR Soccer nem a empresa da qual é dono, a Vevent Empreendimentos e Participações, poderiam adquirir e vender direitos de atletas. Apenas lucrar com os que já tinham comprado.
Funciona assim: o BR Soccer detém 99,95% das ações da Vevent, empresa com sede em Minas Gerais. A empresa, por sua vez, é dona do Coimbra Futebol Clube. Tanto a empresa quanto o clube têm como registro a mesma sede, na Rua Matias Cardoso, em Belo Horizonte.
O presidente do Coimbra é Marcus Vinicius Fernandes Vieira como registrado na Federação Mineira de Futebol. Ele é também sócio da Vevent e foi diretor jurídico do BMG. Aparece ainda como advogado do banco em diversas ações. Os cotistas do fundo não são revelados porque trata-se de condomínio fechado.
Pois bem, o relatório financeiro do fundo BR Soccer até março de 2017 registra investimento em direitos de jogadores pela Vevent em 2015 no valor de R$ 3,1 milhões. Em 2016, o valor foi de R$ 1 milhão. O documento explica: "Correspondem aos valores pagos relativamente ao Instrumento Particular de Cessão de Direitos Econômicos derivados das transferências de atleta profissional, assinado com clubes, atletas e detentores de direitos econômicos."
Naquele ano de 2016, o lucro da Vevent foi de R$ 11 milhões. Uma das operações conhecidas foi a negociação de Diogo Barbosa com o Cruzeiro.
O Coimbra, time de terceira divisão do Mineiro, detém um capital de R$ 36,3 milhões em direitos de jogadores, segundo o documento. A legislação da Fifa proíbe que clubes sejam utilizados apenas para fins econômicos de transferências: as transferências têm que ter um fim esportivo. Um clube que apenas adquira e venda atletas sem que esse jogue pode ser caracterizado como clube-ponte, e ser punido. A CBF começou a investigar esses casos.
No final das contas, o fundo BR Soccer não parece querer se afastar do futebol. Tanto que, ao final de 2016, aumentou o seu capital de R$ 50 milhões para R$ 80 milhões, capital integralmente construído pela Vevent. Não há outros investimentos significativos.
O blog tentou contato com o presidente do Coimbra, mas nenhum dos seus telefones registrados, seja do clube, da empresa ou de seu escritório atende. A assessoria do BMG foi procurada com perguntas sobre a atuação do fundo que não foram respondidas. Foi enviada uma nota em nome do BR Soccer negando que o banco atue no fundo:
"O Banco BMG não é administrador, gestor, custodiante ou quotista do FIP Brazil Soccer e não tem participação ou administração na empresa Vevent Empreendimentos Participações SA. Tampouco participa da gestão da agremiação desportiva Coimbra Esporte Clube. O Fundo encontra-se devidamente constituído, registrado e em consonância com a legislação que o rege. Atenciosamente, Integral Investimento, Gestora do Fundo de Investimento em Participações Soccer BR1."
O BMG já atuou também em patrocínio de clubes de futebol e atualmente faz empréstimos para os times mineiros. Ricardo Guimarães, sócio do banco, já foi presidente do Atlético-MG, época em que o banco emprestou dinheiro ao clube. Neste ano, o Cruzeiro pegou emprestado dinheiro no banco dando como garantia direitos de atletas, cotas de TV e patrocínios.
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