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Rodrigo Mattos

Por manter Del Nero, Brasil é um dos lanternas em investimento da Fifa

rodrigomattos

20/03/2018 04h24

Sob a administração de Marco Polo Del Nero, a CBF se tornou uma das federações nacionais lanternas em repasses recebidos da Fifa para projetos de desenvolvimento do futebol, deixando de receber R$ 7,5 milhões que seriam destinados ao país. Na América do Sul, só supera a Venezuela em dinheiro dado pela entidade mundial. A Fifa interrompeu o envio de recursos ao Brasil porque o dirigente máximo do país está envolvido em acusações de corrupção, e atualmente suspenso de forma provisória até seu julgamento.

O chamado "caso Fifa" estourou em 2015 com a prisão de José Maria Marin, antecessor e aliado de Del Nero na CBF. No final do ano, o Departamento de Justiça dos EUA informou que Del Nero também era acusado de receber propinas em contratos da CBF e da Conmebol. A partir daí, o Comitê de Ética da Fifa abriu procedimento contra o presidente da confederação que renunciou ao cargo no Comitê Executivo da entidade.

Outra medida da Fifa foi bloquear recursos para CBF seja do programa de legado da Copa (US$ 100 milhões), seja do programa de Fundos de Avanço para o Futebol. Um relatório financeiro da Fifa divulgado nos últimos dias mostrou quais federações nacionais foram beneficiadas com esse programa. E o Brasil está entre os lanternas.

Pelo documento, a CBF recebeu US$ 200 mil (R$ 658 mil) de fundos nos anos de 2016 e 2017, 8% do previsto no total que era de US$ 2,5 milhões (R$ 8,3 milhões). Ou seja, o Brasil perdeu cerca de R$ 7,5 milhões em investimentos em projetos de futebol só para manter Del Nero na cadeira de presidente. Em seu documento, a Fifa explica: "Aquelas associações membros sob sanção ou suspensão não são elegíveis para receber fundos do programa de avanço."

Na América do Sul, apenas a Venezuela, país que atravessa crise econômica e institucional, ficou atrás. O país recebeu 4% da renda prevista, em um total de US$ 100 mil. No continente, a média é de que os países tenham recebido 52% da verba prevista. Até federações nacionais que atravessaram crise política como a AFA (Associação de Futebol Argentina) conseguiram receber repasses de US$ 1 milhão no período.

Comparada com o mundo, a CBF também está entre os lanternas. Em média, a Fifa distribuiu 51% dos investimentos previstos em um total de US$ 297 milhões nesses dois anos. Ficaram atrás do Brasil por conta de problemas de organização ou suspensão os seguintes países: Sudão do Sul, Sudão, Nigéria, Líbia, Iêmen, Síria, Arábia Saudita, Paquistão, Kuait, Coreia do Norte e Guatemala. Algumas dessas nações passavam por conflitos sérios que impediam o desenvolvimento de programas esportivos. No caso do Brasil, a questão foi manter um presidente acusado de corrupção.

Em sua campanha pela chapa única, o diretor-executivo da CBF, Rogério Caboclo, prometeu a federações estaduais que o Brasil voltaria a receber recursos da Fifa, pois sua eleição facilitaria principalmente a liberação do dinheiro do legado. Teoricamente, esses recursos serão destinados a Estados que não receberam a Copa do Mundo, sendo usados na construção de centros de treinamento para desenvolvimento do futebol.

O blog não encontrou em nenhuma parte do orçamento da Fifa para 2019-2022 a previsão desse investimento de forma clara. Foi uma promessa do ex-presidente da Fifa Joseph Blatter durante a Copa-2014. Mas, com o congelamento do dinheiro pelo caso Del Nero, só um centro de treinamento foi feito no Pará.

Atualmente, a Fifa tenta se recuperar de problemas financeiros causados pelo escândalo de corrupção. Ainda fechou com déficit de US$ 189 milhões no ano de 2017, o terceiro seguido no vermelho. Só que, como 2018 é ano de Copa do Mundo e o de maior ganho para a entidade, a previsão é de que encerre o ciclo de quatro anos com superavit de US$ 100 milhões. A vantagem da Fifa é que tem reservas em torno de US$ 1 bilhão, o que amenizou a fase difícil.

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Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.