Com filho nomeado na CBF, Zezé Perrella votou contra investigação da CBF

Dezembro de 2016, o senador Zezé Perrella (PTB-MG) vota a favor do relatório da CPI do Futebol que não indicia nenhum dirigente da CBF e ignora as investigações feitas pelo senador Romário (PSB-RJ). Janeiro de 2018, Gustavo Perrella, filho do senador, é nomeado diretor da confederação em cargo remunerado após deixar o governo federal.

A revelação da "Folha de S. Paulo" da nomeação do novo diretor volta a trazer à tona o nome da família Perrella que está cercada de acusações na vida política relacionadas à operação Lava-Jato, a um helicóptero com cocaína e a casos de improbidade administrativa. No esporte, ambos mostram um relacionamento próximo com a CBF.

Uma pesquisa nos arquivos da CPI do Futebol que tinha como objetivo investigar a CBF mostra que o senador Zezé Perrella passou toda a comissão sem fazer nenhum requerimento de dados. Ele era membro efetivo. Faltou ao depoimento do presidente afastado da confederação Marco Polo Del Nero que foi inquirido duramente por Romário e poupado pelo relator Romero Jucá.

Em 21 de dezembro, esteve entre os que aprovaram o relatório de Jucá que fazia sugestões à CBF para melhoria da entidade, sem apresentar um indiciamento a cartola. Apenas os senadores Romário e Randolfe Rodrigues (Rede-AP) assinaram o relatório alternativo pedindo o indiciamento de Del Nero, José Maria Marin e Ricardo Teixeira, entre outros dirigentes e ex-cartolas da confederação.

Dentro da CBF, dirigentes têm certeza que a nomeação para diretor se deu por conta da força política do pai. Mas, oficialmente, a assessoria da CBF alega que Gustavo Perrella foi chamado por conta de sua experiência na condução de programas de desenvolvimento do esporte, inclusive no governo federal (veja abaixo a posição).

Foi em junho de 2016 que Gustavo Perrella tornou-se secretário nacional de futebol e direitos do torcedor. No cargo, seu principal projeto foi o "Seleções do futuro", realizado em outubro de 2017, em parceria justamente com a CBF. O lançamento contou com a presença do secretário-geral da CBF, Walter Feldman.

Pela ideia do programa, em implementação, o dinheiro vem de emendas parlamentares (público, portanto) para instalações de núcleos de futebol masculino e feminino para crianças entre 6 e 17 anos. O investimento da CBF é bem menor: o treinamento de técnicos e ceder a metodologia de ensino, teoricamente feita pelo técnico Tite.

O núcleo original do programa foi instalado em Minas Gerais, base política dos Perrella. Na seleção das prefeituras aprovadas, o Estado é o que tem maior número de sedes, bem acima de São Paulo que tem população maior.

De resto, não há atuação significativa de Perrella em outros campos do futebol durante sua gestão. A Apfut (órgão encarregado de fiscalizar os clubes no programa de refinanciamento fiscal) estava sob sua secretaria. Mas a informação é de que ele não interferiu no organismo, nem participou efetivamente em seu funcionamento.

Durante sua gestão, a página do Ministério divulgou campeonatos da CBF como o Brasileiro Feminino. Em passagem pela Soccerex, em 2016, ele elogiou o momento próspero do futebol.

No governo, Perrella tinha um salário de R$ 15 mil. São vencimentos inferiores ao padrão dos diretores da CBF, embora não exista um valor único para toda a diretoria. Com Perrella, a CBF passou a ter 17 diretores. Após a eleição do futuro presidente Rogério Caboclo, haverá ainda oito vice-presidentes. Todos remunerados.

No âmbito público, o dirigente ainda enfrenta dois processos por improbidade administrativa em Minas Gerais. Um deles cobra a devolução de R$ 14 mil em dinheiro público usado para abastecer seu helicóptero quando ele era deputado estadual. É justamente o veículo pego com cocaína em uma fazenda em Minas Gerais com o piloto de Perrella. A Justiça considerou que ele não tinha relação com o tráfico de drogas.

Durante a tarde de sexta-feira, o blog tentou contato com Gustavo Perrella e de seu pai Zezé, sem sucesso. O que diz a CBF sobre seu novo diretor:

"A escolha do diretor Gustavo Perrella está ligada à sua experiência na condução de programas de desenvolvimento do esporte, mais especificamente o futebol onde liderou muitos projetos. Formado em Administração de Empresas, foi recentemente secretário Nacional do Futebol, órgão ligado ao Ministério do Esporte. É também conselheiro nato do Cruzeiro Esporte Clube, onde exerceu vários cargos importantes nos departamentos de gestão e de futebol."