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Rodrigo Mattos

Processos apontam desvio de R$ 208 milhões de patrocínio da Nike à CBF

rodrigomattos

30/05/2018 04h00

Nova revelação na Justiça da Espanha de que Sandro Rosell recebeu comissão pelo acordo da Nike com a CBF aumenta a quantidade de desvios do dinheiro da parceria. Somada essa denúncia a feita na Justiça dos EUA, um total de US$ 56 milhões (R$ 208 milhões) foram pagos em comissões sem registro na confederação referentes aos contratos com a multinacional.

A parceria entre CBF e Nike foi acertada em Nova York, em 1996. Pela CBF, negociava o ex-presidente Ricardo Teixeira sem a presença de outros dirigentes da entidade. Ao lado do seu então parceiro José Hawilla, executivo da Traffic morto recentemente, que intermediava negócios da federação nacional.

Foi acertado um contrato de US$ 160 milhões por dez anos. Em depoimento à Justiça dos EUA, Hawilla contou que a Traffic receberia US$ 40 milhões de comissões. Mais tarde, a parceria entre CBF e Traffic foi desfeita, o que reduziu o valor final.

À Justiça norte-americana, Hawilla mostrou documentos que indicavam que recebeu US$ 30 milhões da Nike pelo acordo em um banco na Suíça. Desse total, afirmou ter pago metade para Ricardo Teixeira: US$ 15 milhões. Era a primeira mordida no contrato da parceria.

Questionado, o advogado de Teixeira, Michel Asseff Filho, disse que não são verdadeiras as acusações de Hawilla, reafirmando que seu cliente se diz inocente de todas as acusações nos EUA. "Vamos fazer uma declaração dele com sua defesa, que será traduzida no consulado norte-americano, e enviada à Justiça dos EUA", concluiu. A Justiça dos EUA só costuma aceitar defesa de acusados que se apresentem no país.

Com Hawilla fora, Teixeira se tornou muito próximo de Sandro Rosell que no final da década de 90 e início dos anos 2000 era o presidente da Nike para Espanha e depois para o Brasil.

Em 2006, concluiu-se o primeiro contrato entre CBF e Nike. Houve uma renovação feita sem concorrência, em que não foi ouvida nenhuma outra empresa fornecedora de material esportivo. O novo valor foi para US$ 12 milhões porque houve um desconto referentes a amistosos da seleção que antes estavam incluídos no pacote, e, a partir de então, não estariam mais.

Nesta terça-feira, o jornal espanhol "El Confidencial" revelou que há um novo processo na Justiça Espanhola para apurar uma comissão ilegal recebida por Rosell de US$ 26 milhões pelo contrato entre CBF/Nike. O acordo que lhe permitiu receber pagamentos da Nike ocorreu de 2008 a 2011. Ou seja, é referente ao segundo contrato da empresa com a CBF.

A Justiça Espanhola apura se Rosell deu US$ 5 milhões desse total para o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira. Assef Filho afirmou que houve um pagamento neste montante do espanhol para o dirigente brasileiro em 2012 referente a um empréstimo. "O empréstimo foi dado por Teixeira a Sandro em 2009. Foi pago em janeiro de 2012, anos depois do contrato", explicou, negando qualquer relação dessas transações com a parceria da Nike.

Há outras movimentações financeiras entre Rosell e Teixeira, inclusive com depósitos em favor da filha do dirigente brasileiro, como mostrou o blog do Juca Kfouri, em 2012.

Do contrato da Nike, após 22 anos de parceria, as duas investigações espanhola e norte-americana apontam que foram pagos US$ 56 milhões em comissões nunca conhecidas de outros membros da CBF, com acusações de que Ricardo Teixeira se beneficiou. Assef Filho, advogado do dirigente, afirmou desconhecer os pagamentos de comissões.

Nem a CBF, nem a Nike comentam o caso. Apesar dos processos em curso e das acusações, a confederação brasileira nunca se apresentou como vítima de nenhum dos esquemas investigados na Espanha ou nos EUA, nem apurou condições dos acordos com a multinacional. Assim, não tem como pedir ressarcimento por valores que deixaram de entrar em seus cofres como fazem a Fifa e Conmebol. No caso espanhol, a entidade chegou a mandar uma carta que favorecia a defesa de Teixeira.

 

 

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.