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Rodrigo Mattos

River e Boca dão lição a brasileiros com final na bola e sem catimba

rodrigomattos

12/11/2018 04h00

Quando começa uma transmissão de jogo de Libertadores, um narrador brasileiro meia-boca qualquer (tem vários outros ótimos, diga-se) mete aquele clichê: "Tem que ficar de olho na catimba dos argentinos". Nada poderia estar mais longe da verdade atual. Boca Juniors e River Plate deram na final da Libertadores uma lição aos brasileiros de como se concentrar no jogo e menos na arbitragem, no piti, na reclamação.

Sim, com o clima tenso de uma final, houve disputas ferrenhas como a que envolveu o lateral-esquerdo do River, Casco, com trocas de empurrões, normal. E houve simulações como a do atacante do Boca Abila que insistia em se tacar na área pedindo de pênalti.

Mas a proporção era infinitamente menor do que se vê no jogo médio no Brasileiro. Houve pouquíssima cera, reclamações contidas. Nada daquelas rodinhas ridículas a cada lateral que vemos nos gramados nacionais.

Argentinos não são mais os reis da catimba, somos nós. Por aqui, perde-se a conta de quantos goleiros rolam no chão quando o placar está em vantagem, quantos atacantes se jogam na área, quantos jogadores passam 90 minutos em campo falando, reclamando e fazendo gestos. É insuportável.

Em Buenos Aires, no jogo que era o mais tenso da história, o que houve foi futebol. Nenhum dos dois times se retrancou, também como fazem as equipes nacionais seja por jogar fora seja por incapacidade de atuar de forma diferente. Ambos se apresentaram para o jogo com o melhor que tinham, e tinham bastante.

Com dinheiro nos cofres, River e Boca qualificaram seus elencos e têm o que mostrar. Do lado do River, há um Pity Martinez que deu belo passe para o gol de Pratto e depois cobrou uma falta em curva para o segundo o gol que é um primor. Ao lado dele, havia Pratto renascido de uma Libertadores meia-boca, e um dinâmico Borré ao seu lado, além de outros coadjuvantes como Palacios.

Do lado do Boca, menos qualificado do ponto de vista técnico, pode-se ver Benedetto, o que desclassificou o Palmeiras, enfiar linda cabeçada de costas para botar o time em vantagem. E o já veterano Tevez entrar e quase dar a vantagem a seu time em um chute e em um arrancada que só não virou gol porque Benedetto desperdiçou na frente de Armani.

Enfim, não houve guerra, não houve catimba, não houve nem a torcida do Boca alucinada durante o jogo (esteve meio quieta). O que houve em Buenos Aires foi futebol bem jogado, bem disputado centímetro a centímetro, com intensidade que se exige uma final.

A diferença dos times brasileiros para os argentinos, em termos de elenco, nem é grande. Em que pese o renascimento de Boca e River nos últimos anos, diria que equipes como o Palmeiras têm grupo de jogadores de igual nível, e Grêmio, superando dificuldades, também exibe futebol consistente com menos dinheiro. A diferença, nesta Libertadores, é que os argentinos se propuseram a jogar bola. Enquanto isso estávamos preocupados com a "catimba dos argentinos".

OBS: Essa coluna pode ser desacreditada por um segundo jogo da final com briga generalizada com direito a voadora no peito. Espero que não.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.