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Rodrigo Mattos

'Quem tem que interditar o CT é autoridade', diz ex-presidente do Fla

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13/02/2019 04h00

Foto: Thiago Ribeiro/AGIF

O ex-presidente do Flamengo Eduardo Bandeira de Mello diz que nunca soube de nenhuma ordem de interdição, pela prefeitura do Rio, do Centro de Treinamento do Ninho do Urubu onde ocorreu o incêndio que matou dez jogadores da divisão de base. Segundo ele, o clube não tinha porque fechar o local se o município nunca o interditou de fato. "Se houvesse interdição de verdade, tinha chegado a nós."

Sobre a falta de alvará de bombeiros, o dirigente afirmou que estava próximo de conseguir, e que cumpriu todas as normas para chegar ao documento.

Por fim, disse que em sua administração as condições de alojamento dos garotos da base melhoraram. Mas admite que, com a ocorrência do incêndio nas dependências do Flamengo, é clara a responsabilidade da instituição pelo fato.

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Blog – Qual o histórico daqueles contêineres daquele alojamento?

Eduardo Bandeira de Mello – Existiam estruturas de contêineres quando assumimos. Isso todo mundo sabe, era só passar por ali e ver. Era o alojamento dos profissionais. Não quero me esquivar de responsabilidades. Mas, pelo que me lembro, os meninos ficaram antes naquela casa velha que tem ao lado do que pegou fogo. O que tinha alojamento era de descanso para os profissionais. Depois, foram transferidos para o módulo profissional, e foram feitas melhorias para receber a base. É o que o Júnior citou em seu artigo.

Blog – Quando isso ocorreu?

Bandeira – Eu chutaria no final de 2016 e início de 2017 quando levamos os profissionais para lá (CT novo construído). As condições eram muito piores e melhoramos as condições de trabalho.

Blog – Por que não havia a previsão dos contêineres no pedido de licenciamento do CT feito à prefeitura?

Bandeira – Não estou me esquivando, mas não sei. Se ainda fosse o presidente do clube, poderia conseguir essa informação em 30 segundos, mas não sou mais, sou apenas um torcedor. Presidente tem condições de conseguir isso se consultar os funcionários.

Foto: Thiago Ribeiro/AGIF

Blog – Mas por que não foi pedido o licenciamento com a inclusão dos contêineres?

Bandeira – Esse documento (licenciamento) era relativo ao novo CT. Estava prevista uma área de estacionamento. O projeto dizia que ali seria o estacionamento. Aí os contêineres iam perder a finalidade. Isso não tem nada a ver com o alvará dos bombeiros do CT como um todo. O comandante dos bombeiros já falou que estava em vias de ser dado (alvará). O que faltava era só a licença dos bombeiros. Todo mundo passava por ali e via. Não é crível que ninguém tivesse conhecimento daquilo lá.

Blog – A prefeitura informou que havia multas e uma ordem de interdição do CT. Esse documento chegou ao clube?

Bandeira – O que temos conhecimento é que órgãos de prefeitura sobre os direitos da criança e adolescente foram lá várias vezes e elogiaram as instalações. O único documento que tínhamos da prefeitura sobre as instalações da base era esse.

Blog – A ordem de interdição não chegou ao clube?

Bandeira – Não chegou assim para a presidência (ordem de interdição). Estou sabendo agora que chegou em 2017 uma ordem que se referia ao CT inteiro. A prefeitura fez provavelmente porque não tinha a licença dos bombeiros. Falava em interdição. Agora é surreal pensar que a prefeitura tenha uma ordem de interdição e o local continue funcionando. O prefeito esteve diversas vezes conosco, inclusive representantes da prefeitura estiveram no CT. Nem eu e talvez nem ele tínhamos conhecimento desta interdição. Fomos surpreendidos agora porque soubemos que tinha esse documento do final de 2017.

Blog – Mas por que o clube manteve o CT aberto se havia a ordem de interdição?

Bandeira- Quem tem que interditar um local é a autoridade. Se quiser, a prefeitura pode interditar e ninguém entra lá. Não existe isso de você interditar e reclamar um ano depois que a ordem não foi cumprida. Não estou me esquivando, mas não tenho todos os detalhes. O que aconteceu da interdição é que pode ter sido só abordado entre equipes técnicas da prefeitura e do Flamengo. Soube ontem. Isso não chega à alta administração. Imagino que tenha sido tratado pela parte técnica diretamente com técnicos da prefeitura. E eles mantiveram contato ao longo do tempo.

Blog – O Flamengo tem sido citado como exemplo de administração. O fato de haver essa ordem de interdição e o senhor não ter ficado sabendo não revela uma desorganização no clube?

Bandeira – Não sei porque não sei do que se trata (a interdição). Se houvesse interdição de verdade, chegaria a nós. Se houve a dita interdição, o pessoal técnico pode ter tratado do assunto com os técnicos da prefeitura e o CT pode seguir funcionando.

Blog – O senhor entende que havia providências a serem tomadas pelo clube que não foram tomadas em relação ao CT?

Bandeira- Providências que poderiam ser tomadas são as licenças. Porque não saiu? Sem querer me esquivar, não sei quais detalhes impediram a licença definitiva dos bombeiros. Sempre agimos dentro das regras e de forma republicana com relação a todos os órgãos públicos. Tudo foi feito dentro desses valores. Pessoal técnico foi encarregado disso.

Qual a responsabilidade que o senhor entende que o clube tem sobre o incêndio? Algo poderia ser feito diferente para que se evitasse o ocorrido?

Bandeira – É óbvio que tem responsabilidade. Isso nem é motivo de manchete, é só uma questão de bom senso. Só o fato de ter ocorrido um incêndio quando os garotos estavam com o clube já traz a responsabilidade. O clube não está fugindo das responsabilidades como dá para ver das entrevistas do presidente. Agora, se poderia usar parede de poliuretano ou não, se foi um curto-circuito ou não, quem vai dizer é a perícia. É precipitado e leviano dizer qual foi a causa. É leviano dizer o que aconteceu. Assim como é leviano apontar que tenha sido uma sobrecarga da light. Não podemos dizer uma coisa nem outra. O que espero como cidadão é que se apure o que aconteceu.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.