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Rodrigo Mattos

Regulamento bizarro do Carioca complica a cabeça do torcedor

rodrigomattos

25/03/2019 04h00

Tenho que admitir aqui a minha falta de capacidade intelectual para compreender o regulamento do Carioca. As regras, vai lá, com algum esforço conseguimos entender. Agora, me escapa a lógica para estabelecer uma série de jogos com pouquíssima importância, clássicos repetidos em sequência, seis semifinais para só um campeão.

Ao final dos jogos da fase de grupos da Taça Rio, ficou determinado que haverá um Fla-Flu e outro Vasco e Bangu nas semifinais desta segundo turno. Será o segundo Fla-Flu em menos de uma semana, o terceiro em um campeonato de 19 datas. É possível que cheguemos a quatro confrontos entre os mesmos times em uma competição dependendo da combinação de resultados. (Ressalte-se que a empolgação da torcida rubro-negra com seu time tem levado a bons públicos nestas partidas)

Mas isso nem é o fator mais bizarro do regulamento do Estadual. Com os resultados do final de semana, o campeonato está restrito a quatro times, Flamengo, Vasco, Bangu e Fluminense. São os melhores na pontuação geral e os classificados às semifinais da Taça Rio.

O título estará entre eles e, salvo se o Vasco ganhar o segundo turno, disputarão as semifinais do Estadual (desculpe a repetição da palavra semifinais, mas há muitas semis no Carioca). Mas, antes disso, vão disputar três jogos da Taça Rio que não valem quase nada.

Na realidade, levantarão uma taça do turno para definir quem terá a vantagem do empate nos jogos eliminatórios que valem a chegada à decisão, com exceção do Vasco. Para o time vascaíno, um triunfo no turno significa a classificação direta à decisão, isto é, ainda é uma vantagem mais relevante. Salvo o título do Vasco, que desclassificaria o Fluminense com quarta melhor campanha na pontuação geral, é prolongar jogos por nada.

Será que, em uma situação assim, dá para culpar o treinador tricolor Fernando Diniz por botar reservas no clássico com o Flamengo, ou seu colega Abel Braga por fazer o mesmo diante do Vasco? O Carioca já é o menos relevante campeonato da temporada para os times do Rio e a Ferj (Federação de Futebol do Rio de Janeiro) e os clubes ainda fazem questão de criar partidas sem importância.

Durante o Fla-Flu, o narrador da Globo Luis Roberto repetia para o telespectador que a partida tinha, sim, importância. Pode ter certeza de que, quando um narrador tenta exaltar a relevância de um jogo de forma insistente assim, é por que esta partida tem pouquíssima relevância. (Não vai aqui nenhuma crítica ao narrador que só fazia o seu papel de promover a partida)

Muito já foi dito sobre a falta de interesse dos Estaduais para os clubes grandes e para os torcedores pelo excesso de jogos fracos. Além disso, as federações não ajudam com fórmulas esdrúxulas, aprovadas pelos clubes. Por que não adotar um formato mais direto e enxuto, com poucos e decisivos jogos?

Depois, vemos torcedores ou jornalistas criticarem nossas crianças que vestem camisas do Barcelona, só falam do Cristiano Ronaldo, que sabem de cor a escalação do Mancheter City. "É a geração Nutella", dizem eles. E aí, em vez do filé da Liga dos Campeões, oferecemos um jiló para as crianças e exigimos: "Engole aí ou você não é raiz". Vai dar supercerto.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.