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Rodrigo Mattos

Final escancara abismo entre Fla e Vasco construído no 'Euriquismo'

rodrigomattos

15/04/2019 04h00

Vasco e Flamengo viveram administrações irresponsáveis do final dos anos 90 até o início da atual década. Em graus diferentes, a decadência de ambos era visível. Em 2013, a agremiação rubro-negra tomou outro rumo com gente nova no poder, e a cruzmaltina… retornou a Eurico Miranda em 2014. Cinco anos depois a final do Estadual do Rio expõe o abismo que existe entre os dois clubes.

Foi um passeio do Flamengo no Nilton Santos. Jogou com facilidade, não foi ameaçado e chegou aos gols com naturalidade construindo um placar que poderia (deveria) ser maior. Não deu nem para o vascaíno torcer, enquanto o rubro-negro relaxava pouco preocupado no ritmo do churrasco.

O principal motivo é, sim, a enorme diferença técnica entre os times fruto da maior quantidade de recursos de um clube contra o outro. Com um elenco estrelado, sobram recursos ofensivos ao Flamengo. A ponto de o seu técnico Abel Braga ter decidido alterar quase todas as posições de seus jogadores da frente, e isso ter feito pouca diferença no resultado final.

Sim, Everton Ribeiro saiu da direita para jogar mais pelo meio, Arrascaeta (titular em jogo grande pela primeira vez) ficou pela esquerda, Gabigol foi deslocado para direita e Bruno Henrique jogou de centroavante. Havia rotação, e as posições se invertiam em vários momentos. Embora eu prefira os jogadores em suas posições originais, funcionou.

Junto a eles, o Flamengo tinha Cuellar, Arão, e os laterais avançados. Era um sufoco na marcação da saída de bola do Vasco. Na realidade, a agremiação vascaína não conseguia jogar com articulação em nenhum momento. Eram jogadores isolados no meio-campo, perdidos em meio a tantas retomadas de bola rubro-negra.

Pior, nem a solidez defensiva que o Vasco já exibiu em determinados momentos deste ano se via em campo. Havia espaço para os meias rubro-negros jogarem, rodarem a bola, cruzarem na área. Nem sair no contra-ataque de forma minimamente ameaçadora o time de São Januário conseguia. Era só a esperança de uma bola aérea.

Pode se botar na conta das falhas do Flamengo ao executar o lance final a falta de gols no primeiro tempo. Mas, no início do segundo tempo, Bruno Henrique começou a aproveitar os espaços que lhe eram dados na área. Arrematou com eficiência uma bola quase sem ângulo após rebote da zaga.

O Vasco voltou com Lucas Santos no intervalo no lugar de Bruno César, e depois Tiago Reis substitui Maxi Lopez, que teve um arremate no jogo inteiro. Nada mudava, o Vasco não conseguia jogar. A diferença de elenco é a maior responsável, mas o técnico Alberto Valentim tem culpa neste BO. Seu time não tinha aproximação, não tinha organização na saída, não tinha nada.

E o passeio continuava e seria o segundo gol não tivesse o árbitro Rodrigo Nunes de Sá anulado equivocadamente tento de Bruno Henrique após Werley salvar. Não era desvio de bola, portanto, não havia impedimento. Por vias das dúvidas, Bruno Henrique fez mais um gol em jogada de Arrascaeta pela esquerda.

A entrada do uruguaio no lugar de Diego mostra que ele pode jogar com Éverton e será tarefa de Abel Braga escolher entre ele e Diego. Para mim, o time é mais sólido com o camisa 10. Mas não há dúvidas que Arrascaeta é mais brilhante, dono de soluções imprevisíveis em espaços exíguos. Portanto, mais produtivo contra times fechados. A ver a opção futura do técnico.

Restava ao Vasco observar enquanto o Flamengo jogava e sua torcida fazia a festa. Foram apenas 10 mil pessoas ao estádio. O que se explica pela decisão da diretoria do Vasco de levar o seu jogo para o pouco atrativo Nilton Santos. Essa medida empobreceu o espetáculo, atrapalhou o torcedor que queria ir ao jogo e prejudicou os cofres dos dois times.

Tudo porque a diretoria vascaína não aceita a cessão o Maracanã ao Flamengo. Um protesto que ocorre apesar de o Vasco jogar pouco como mandante no estádio, não ter condições financeiras de bancar os custos e ter obtido melhores condições no aluguel com a concessão. A briga se justifica só para impedir o rival de assumir o estádio, ainda que provisoriamente.

Essa atitude é bem parecida com as do falecido ex-presidente vascaíno Eurico Miranda que focava na rivalidade com o Flamengo e cuidava mal do Vasco. Eram discursos inflamados que escondiam uma gestão que deixava o clube em ruínas financeiras.

Como consequência, estão aí as dívidas, os atrasos salariais e o elenco enfraquecido dos tempos atuais. No mesmo período, o Flamengo se tornava uma potência financeira, e ano a ano aumentava a diferença para o campo. O Vasco pode surpreender e derrubar o favoritismo do rival no próximo domingo, já que em clássico e futebol (quase) tudo é possível. Mas certamente o abismo que se revelou neste domingo só poderá diminuir quando a agremiação da Colina passar a cuidar mais de si mesmo do que pensar no seu rival.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.