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Rodrigo Mattos

A arte de Tite de só responder o que quer e não esclarecer nada

rodrigomattos

17/05/2019 13h27

Tite é um técnico educado e sempre foi aberto ao diálogo com a imprensa. Só que tem cada vez mais respondido só o que lhe interessa, sem dar esclarecimentos a questões pertinentes sobre a seleção. Foi assim na entrevista coletiva de convocação da Copa América.

O assunto mais sensível de sua entrevista era a discussão sobre a agressão de Neymar após um jogo do PSG. Questionado seguidamente sobre o assunto, Tite limitou-se a dizer que ele errou e afirmou que não falaria nada enquanto não tivesse conversado com o jogador. Chegou a pedir para um repórter trocar sua pergunta.

A pergunta óbvia, que calhou de ser feita por mim, era sobre a diferença de tratamento entre Neymar e Douglas Costa. Em 2018, após Douglas dar uma cusparada em outro jogador, Tite justificou assim deixa-lo de fora da lista: "Douglas Costa não veio por dois fatores: a lesão e o ato de indisciplina".

Tite considerou injusta a comparação entre os casos e afirmou que não estavam interpretando corretamente suas falas. "Ele (Douglas) não foi convocado por lesão e o problema que aconteceu. Ele foi convocado e eu conversei com ele. Temos que ter cuidado para reportar a pessoa que está nos ouvindo para não pautar diferente", declarou o treinador. O treinador pegou o texto com sua declaração na época e leu. E falou em colocar "as coisas corretas".

No final das contas, Tite preferiu botar a culpa da comparação entre os casos -que repito é até óbvia – nos outros. Não esclareceu o que levou em conta no caso Neymar para ignorar sua indisciplina ao convoca-lo. Ele é importante demais para a seleção e por isso deve ser perdoado? Sua indisciplina foi de natureza diferente? Se não tivesse sofrido uma lesão recente, Douglas Costa também seria chamado daquela vez?

Com isso, o treinador perdeu a chance de explicar ao torcedor qual o critério para convocações em caso de indisciplinas. Também não respondeu a outras perguntas mais simples sobre o nível da geração atual do Brasil, ou uma comparação entre a Copa América e a Euro.

Como é impossível fazer réplicas em entrevistas da seleção, a coletiva de Tite virou um palanque sem contraditório. Nunca é positivo que uma pessoa em função importante como a do treinador de seleção se transforme em uma figura acima de questionamentos.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.