Empresário ligado à propina na Fifa cobra R$ 8 mil por jogo da Copa América
A Conmebol deu ao Grupo Águia os direitos de vender ingressos e pacotes de luxo de jogos da Copa América 2019 que atingem preço de até R$ 8,4 mil m. Essa empresa tem como sócio Wagner Abrahão que foi acusado na Justiça dos EUA de intermediar pagamento de propina para ex-presidente da CBF, José Maria Marin, justamente em caso relacionado à Copa América. Foi feita uma concorrência para a contratação do Grupo Águia, segundo o comitê organizador.
Os pacotes de hospitalidade são produtos comercializados em grandes eventos como a Copa do Mundo. Enquanto torcedores comuns disputam ingressos em sites e enfrentam filas para assistir à Copa América, há privilegiados que pagam mais para obter esse direito: o produto mais caro da competição custa nove vezes o ingresso de maior valor da competição (ambos da final).
Com ligação há 20 anos com a CBF, e com os ex-presidentes Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero, o Grupo Águia já tinha sido responsável por esse tipo de pacote da Copa-2014. Para a Copa América, houve uma concorrência feita pela Conmebol para a contratação da empresa, segundo o comitê organizador.
A Conmebol foi a maior atingida pelo escândalo do caso Fifa investigado e julgado por procuradores e pela Justiça dos EUA. Foi comprovado o pagamento de propina para ex-dirigentes da confederação sul-americana em troca de aprovarem contratos da Libertadores e da Copa América. A Conmebol teve uma troca de poder, se apresentou como vítima na Justiça dos EUA e prometeu transparência nos processos de contratação.
Pois bem, o Grupo Águia, contratado pela confederação sul-americana, tem como principal sócio Wagner Abrahão (o nome real da empresa é Asa Participações). No processo contra Marin, nos EUA, foi mostrado que o pagamento de US$ 3 milhões em propina para o ex-presidente da CBF se deu por duas empresas de Abrahão. São as empresas Support Travel e Expertise Travel, ambas com contas em Andorra, paraíso fiscal na Europa. Essas receberam o dinheiro da FTP (offshore que comprou os direitos da Copa América em nome da Torneos Y Competencias) e repassaram os valores para uma firma de José Maria Marin.
Abrahão já teve outros negócios relacionados à CBF investigados. A primeira CPI do Futebol (em 2001) apontou suspeita de superfaturamento em passagens do Grupo Águia, a segunda CPI do Futebol apontou que ele tinha participações em negociações de patrocínio. Houve negócios particulares entre ele e Ricardo Teixeira e Del Nero, com vendas de imóveis entre sócios do Grupo Águia e os cartolas.
Nada disso impediu a Conmebol de escolher o Grupo Águia para seus pacotes de hospitalidade. A empresa negocia quatro tipo de pacotes com valores diferenciados. Aqueles com valores mais baixos (chamados experience) somam R$ 1.780 para a final. Incluem assentos experience, os quais não é explicado em qual setor, e lanches, refrigerantes ou água. Para efeito de comparação, um ingresso de categoria 1, o melhor lugar do estádio, custa R$ 890,00 na venda direta pelo site da Conmebol.
Há ainda pacotes Premium (também em assentos no estádios) e os dois destinados aos camarotes que são Private Suite e Exclusive Suite. No último caso, estão incluídos no pacote pratos quentes, lanches, champagne, vinhos e sucos. Para a final, o valor total atinge R$ 8,390, além de transporte. Não há hospedagem incluída porque já houve acusações de venda casada nestes casos.
Questionada pelo blog, a Conmebol não explicou como se deu o processo de concorrência vencido pelo Grupo Águia, nem quantos ingressos foram destinados à empresa. A assessoria do Grupo Águia também não retornou as perguntas feitas. O Comitê Organizador limitou-se a dizer que só a Conmebol poderia falar sobre isso, apenas confirmando a concorrência.
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