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Rodrigo Mattos

Por que os ingressos mais caros da Copa América são os mais vendidos

rodrigomattos

22/06/2019 04h00

Encerrada as duas primeiras rodadas da Copa América, o que mais chama atenção são públicos razoáveis que geram rendas milionárias. Um levantamento do blog nos borderôs dos jogos mostra que os ingressos mais caros (categoria 1) são os mais vendidos entre os quatro tipos disponíveis. Por que isso ocorre se o normal em competições são os bilhetes mais baratos esgotarem?

Para responder a pergunta, vamos primeiro aos números. Nos borderôs disponíveis de oito jogos, estão registrados 190.844 ingressos do tipo comum, vendido ao público pela internet. Desse total, foram 71.518 para a categoria 1, o que representa 37% do total dos bilhetes. Veja a tabela abaixo:

categoria 1 – total vendido: 71.518 – 37,5% – preço R$ 350,00

categoria 2 – total vendido: 32.357 – 17% – preço R$ 250,00

categoria 3 – total vendido: 42.212 – 22,1% – preço R$ 180,00

categoria 4 – total vendido: 44.757 – 23,4% – preço: R$ 120,00

O blog questionou o Comitê Organizador da Copa América sobre quantos ingressos de cada categoria havia disponíveis para saber se a maioria era de ingressos caros. O comitê se recusou a fornecer os dados.

Não é à toa que não querem revelar os números. Ao se cruzar outros dados, é possível constatar que o comitê incluiu, de fato, mais ingressos na categoria mais caros, e há menos assentos por preços mais baixos.

Como se chega a essa conclusão? Primeiro, o Comitê Organizador disse que "a categorização dos estádios seguiu modelos de outros eventos". A cópia, na realidade, é da Copa do Mundo. A Fifa sempre separa em quatro categorias os ingressos. E inclui quase todos os assentos da faixa central do campo na categoria 1, a mais cara. O comitê da Copa América repetiu esse procedimento no Brasil.

A faixa central de campo é onde se concentra a maior parte dos ingressos nos estádios. Em relatório da Fifa, é mostrado que, na Rússia-2018, foram vendidos 37% dos ingressos para a categoria 1, a mais cara. É exatamente o mesmo percentual da Copa América. (Nos outros setores, há diferenças que explico no final).

Pois bem, nos jogos mais cheios da competição sul-americana, aumenta o percentual de ingressos mais caros. Na abertura entre Brasil x Bolívia, que chegou a ser anunciada como esgotada por equívoco do comitê, foram 22.258 ingressos de categoria 1, mais do que as outras três categorias juntas. Ou seja, quando o estádio está mais próximo de estar cheio, constata-se que a maior parte dos assentos disponíveis é dos mais caros.

Em jogos mais vazios, como Paraguai e Catar, aumenta o percentual de ingressos mais baratos das categorias 4 e 3. Quando tem opção, o público compra bilhetes mais acessíveis na Copa América. Por isso, ao contrário da Copa da Rússia, a Copa América do Brasil tem mais ingressos vendidos para as categorias 4 e 3 do que para a 2.

Para justificar seus preços, o Comitê Organizar alega que estabeleceu valor inferior em 30% à Copa do Mundo. Isso é verdadeiro se considerarmos o reajuste pela inflação nos últimos cinco anos após o Mundial do Brasil-2014, já que os valores de três categorias são iguais. É fato que o Comitê da Copa América seguiu o padrão Fifa e por isso incluiu tantos bilhetes caros no lote. O público visto nos estádios brasileiros, no entanto, é bem inferior à Copa do Mundo.

Veja abaixo a posição do Comitê do Organizador sobre o caso:

"A categorização dos estádios seguiu modelos de outros grandes eventos. O Comitê Organizador Local da Conmebol Copa América Brasil 2019 estipulou 04 categorias de preço por partida, com exceção para as Arenas do Grêmio e Corinthians, com mais uma categoria, por ter lugares sem assentos.

O objetivo foi oferecer faixa ampla de preços aos torcedores. Dezessete partidas (65% dos jogos) têm preços entre R$ 60 (R$ 30 a meia-entrada) a R$ 350 (R$ 175 a meia-entrada). O custo do ingresso é 10% superior à Copa América Chile 2015 e 30% inferior à Copa do Mundo 2014."

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.