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Rodrigo Mattos

Queda de Felipão representa nova tendência no banco? Ou é mais do mesmo?

rodrigomattos

02/09/2019 20h59

Na última quinta-feira, a diretoria do Palmeiras e o técnico Felipão convocaram uma entrevista coletiva para dizer que o trabalho de seu departamento de futebol estava sendo feito corretamente, que não havia nada a mudar e que uma parte da culpa da crise era da imprensa. Nesta segunda-feira, a mesma cúpula palmeirense decidiu pela saída do treinador. No meio, houve uma derrota avassaladora para o Flamengo.

Essa mudança de curso em poucos dias está longe de ser incomum no futebol brasileiro. Técnicos são fritados enquanto dirigentes fazem discursos públicos em sua defesa. O que há de diferente neste processo de Felipão é como um modelo de jogo se definhou em alguns meses, inclusive no coração dos palmeirenses.

A impressão é que o torcedor, pelo menos no momento, se encheu do jogo baseado em uma defesa forte e parco repertório ofensivo. O Palmeiras montado por Felipão sabia jogar no erro do adversário, com velocidade de bolas longas para explorar espaços que obtinha jogando mais atrás. Outra opção eram as bolas paradas, seja em laterais jogados de longe, seja em cruzamentos para seus fortes zagueiros. Quando isso não encaixava, não havia mais nada aí.

Esse modelo que deu um título brasileiro para o Palmeiras em 2018 diante de adversários que não apresentavam a mesma regularidade em seus padrões de jogos. Mas não evoluiu nada a partir daí. Não foram poucos jogos fora de casa em que o time alviverde simplesmente não tinha a bola, alguns deles em que venceu. Lembro por exemplo da vitória sobre o Junior Barranquila em que a equipe não tinha posse alguma. A diferença para o domingo no Maracanã é que o Flamengo era muito melhor do que o Junior.

E isso uma parte do torcedor palmeirense parece ter entendido. É só ver as reações negativas em redes sociais ao nome de Mano Menezes escolhido pelo técnico do time. Assim como Felipão, Mano sabe dar um padrão a um time, e tem em comum a preferência por um jogo seguro atrás para explorar erros de rivais. Foi assim em seus anos de Cruzeiro, e antes em outras equipes. E foi um estilo que fracassou em 2019.

Após o 7×1 e a lição que o futebol brasileiro tomou, a evolução tática brasileira se direcionou justamente para esse estilo defensivo com honrosas exceções. Onde não havia organização e faltava tática, passou a sobrar linha de quatro na frente de linha de quatro para fechar a casinha da forma mais moderna possível.

Mas, aos poucos, o torcedor está sendo apresentado a outras opções, como Renato no seu Grêmio desde 2016, e agora com os estrangeiros Sampaoli e Jorge Jesus, em Santos e Flamengo. A questão é: eles vão instituir a nova tendência e a queda de Felipão foi um sinal? A escolha de Mano Menezes demonstra que pelo menos o Palmeiras vai se ater a um modelo mais antigo. Resta saber o que farão outros clubes daqui para a frente.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.