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Rodrigo Mattos

Maltratado, Brasileiro tem potencial de liga top 3 no mundo

rodrigomattos

23/09/2019 04h00

É comum a mídia brasileira debater se um time que tem destaque conseguiria competir nas ligas mais fortes do mundo. Trata-se de uma discussão em que é impossível chegar a uma conclusão porque as condições dos campeonatos são muito diversas. Mas é possível, sim, comparar a relevância entre as ligas nacionais mais importantes do planeta.

Em uma análise rápida, o Brasileiro está obviamente atrás da Premier League, e também dos Campeonatos Alemão, Italiano e Espanhol. Talvez esteja nivelado com a Liga Francesa se consideramos todos os aspectos, técnico, financeiro, repercussão. Seria portanto o quinto ou sexto do mundo.

Pois uma análise mais detida sobre o estágio da nossa Série A, considerando também fatos da semana passada, mostra que essa tem um desempenho abaixo do seu potencial. Não é que não esteja evoluindo. Avançou algumas casas esse ano com dois técnicos estrangeiros Jorge Jesus e Sampaoli de bom nível, com média de público acima de 20 mil pessoas por jogo, com uma boa qualidade em determinadas partidas.

A questão é que este avanço ocorre bem mais lento do que deveria. Um primeiro e óbvio fator é a pouca relevância que a CBF, organizadora da competição, dá ao Brasileiro. Houve um passo importante com a implantação do VAR bancado pela entidade, o que gera merecidos elogios à diretoria da confederação.

Mas, no meio do campeonato, a CBF dá prioridade às suas seleções e provoca uma série de desfalques aos times em datas-Fifa. Joga contra o produto. Até o técnico Tite minimizou à importância de duas rodadas do Brasileiro ao defender que desfalques em campeonatos de pontos corridos são menos relevantes.

Há ainda a falta de cuidado da CBF. Não é dura na cobrança por melhorias de gramados dos campos nacionais, permite a venda de mando de campo indiscriminado (neste caso, aprovada pelos clubes), faz tabela toda troncha com excesso de jogos em alguns meses e o campeonato quase todo disputado no final do ano.

Para além disso, há a parte que é culpa dos clubes. As péssimas gestões de determinadas agremiações as coloca em situação frágil e as impede de montar times mais fortes. Veja os exemplos de Botafogo, Vasco, Fluminense e Cruzeiro que limitam seus campeonatos a sobreviver neste ano.

Do outro lado, vemos um Grêmio que ajeitou suas finanças e por isso rejeitou propostas que não fossem acima de determinado patamar por Everton. Sorte nossa, ficamos com um brilhante jogador a se exibir como na partida contra o Santos. Esse jogo, aliás, é um exemplo do potencial que pode atingir o campeonato, com dois bons confrontos e bons desempenhos de jogadores e dos técnicos Sampaoli e Renato, que deu o troco com juros pelo primeiro turno.

Imagine se todos os 13 ou 14 times mais tradicionais estivessem com suas contas arrumadas e pudessem segurar seus jogadores até uma proposta astronômica, pudessem repatriar outros bons atletas, aumentassem a presença de técnicos estrangeiros para competir com os daqui e desafia-los a melhorar, pudessem encher suas equipes de sul-americanos bons de bola inclusive aqueles que iriam para times de segundo escalão da Europa.

O Brasileiro tem contratos menos vantajosos do que os europeus por não serem em euros. Mas tem enorme vantagem competitiva de ser em um país que forma jogadores como nenhum outro. Com as contas ajeitadas, os clubes venderiam mais caro seus atletas e teriam rendas superiores, como já fazem Flamengo, Palmeiras e Grêmio. Outra vantagem é a competitividade de um grande número de times, o que torna a liga nacional com um grau de imprevisibilidade maior do que as europeias talvez com exceção da Premier League.

Esse produto fortalecido poderia ter uma venda internacional feita decentemente e não nas licitações mal realizadas pela CBF que resultaram em nada. Mesmo internamente, a venda do Brasileiro, se fatiada por direitos, pode ser melhor em relação à renda proporcionada atualmente e obter patrocínios superiores.

Apesar da diferença do euro para o real, o Brasileiro tem potencial para ser uma liga talvez só inferior a Premier League e brigando com as outras três relevantes pelo pódio (Alemão, Espanhol e Italiano). Um investidor atento de bolsa que se detiver no assunto verá que se trata de uma empresa subvalorizada cujas ações poderiam multiplicar de preço se houvesse uma gestão eficiente para explorar a mina de diamantes que têm nas mãos.

 

 

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.