Ao atropelar Renato, Jesus não tem mais adversários no Brasil
É preciso lembrar que quando Jorge Jesus chegou ao Brasil não era visto como um Guardiola que adotou os trópicos. Seu trabalho foi bastante questionado, por ter ganho apenas títulos em Portugal, por um time que se expunha muito, ou pelo clichê de que estrangeiros demoram a se adaptar ao Brasil. Um a um, o técnico português derrubou esses mitos e não lhe resta mais nenhum rival de pé depois do sacode que deu em Renato Gaúcho.
O primeiro passo de Jesus logo ao chegar ao Flamengo foi implantar de imediato suas ideias de jogo e de trabalho, sem transição, sem condescendência com jogadores. 1) Jogo vertiginoso com linhas altas, marcando pressão ao adversário e atacando o com velocidade quando com a bola 2) intensidade e ofensividade em praticamente 90 minutos de jogo 3) Nunca poupar jogadores a não ser que existisse um risco real de contusão.
Com essa filosofia, conseguiu 85% dos pontos disputados no Brasileiro. Saiu de oito pontos de desvantagem para o Palmeiras para 10 de frente para o mesmo time alviverde. Foi o técnico Felipão, que dominava o Nacional desde o ano passado, o primeiro desafiante que Jesus massacrou com um sonoro 3 x 0 que levou à demissão do técnico campeão do mundo em 2002.
Duas rodadas depois, o Flamengo pegaria o Santos de Jorge Sampaoli com quem disputava diretamente a liderança. De novo, Jesus levou vantagem no duelo tático, que o próprio técnico classificou como no nível dos disputados na elite europeia. Foi uma partida equilibrada, mas em que nenhum momento o técnico argentino conseguiu impor o jogo intenso e de pressão no campo rival que é sua característica contra outros adversários.
Na Libertadores, Jesus atropelou o modelo de defensivismo clássico à brasileira praticado por Odair Hellmann. O Internacional foi o que impôs maiores problemas à linha ofensiva rubro-negra para penetrar tão postado estava atrás para evitar gols. Mas uma hora foi furada a defesa, pois o Flamengo de Jesus é feito para atacar linhas fechadas, não só se aproveitar de falhas de adversários mal armados.
Na Arena da Baixada, diante do técnico mais promissor da atual geração Tiago Nunes, Jesus conseguiu que o Flamengo vencesse o Athletico-PR fora de casa depois de décadas. Ganhou em um jogo igual, diga-se, mas prevaleceu com armas como a marcação pressão bem feita que resultou no primeiro gol rubro-negro. Compensou assim a eliminação que Nunes tinha imposto ao rubro-negro carioca em dois empates, nas primeiras partidas de Jesus.
Era então a vez de Renato Gaúcho que sempre destacou ter o time que pratica melhor futebol nos últimos três anos. Foi dominado a maior parte do tempo no confronto pelo treinador português. No Sul, o Grêmio foi sufocado sem conseguir praticar seu jogo de meio-campo e posse de bola no primeiro tempo, e conseguiu no máximo equilibrar no segundo tempo com estocadas.
No Rio, foram 45 minutos em que o time se esforçou ao máximo para ser competitivo diante de um Flamengo superior. Até que caiu como um castelo de cartas pela volúpia rubro-negra diante de uma defesa excessivamente exposta. Renato não teve medo, o que é positivo. Mas só a coragem não é suficiente para derrotar esse Flamengo.
Haverá quem diga que o elenco é superior aos outros e, assim minimiza o efeito de Jesus como fez o próprio Renato após a derrota. É uma falácia de quem não enxerga (ou não quer admitir) o quanto boa parte dos jogadores rubro-negros melhorou com a coordenação coletiva rubro-negra, a troca constante de posições, os posicionamentos sempre propícios a gerar triangulações. Não se sabe quantos vão se apegar a essa nova corrente da negação. Certo é que a cada dia escasseiam os argumentos para negar Jesus.
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