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Rodrigo Mattos

Ex-cartolas da CBF levaram propina em dinheiro vivo, diz sentença da Fifa

rodrigomattos

02/11/2019 04h00

Houve pagamento de propina em dinheiro para os ex-presidentes da CBF, José Maria Marin, Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero, em troca de contratos da Copa Brasil. É o que conta uma sentença da segunda instância do Comitê de Ética da Fifa que condenou o ex-dirigente da federação brasileira Marco Polo Del Nero, por ser um dos beneficiários de subornos. Banido do futebol, o cartola nega as acusações e recorreu a um tribunal esportivo.

A sentença contra Del Nero tornou-se pública porque a Fifa decidiu divulgar todas as decisões de seus orgãos disciplinares tomadas a partir de janeiro deste ano. O processo contra Del Nero tem como base as acusações de corrupção sofridas por ele na Justiça dos EUA, onde nunca foi julgado por não sair do Brasil. O ex-dirigente foi condenado pelo Comitê de Ética da Fifa em abril de 2018 e a decisão foi confirmada pela segunda instância em fevereiro de 2019.

A sentença do comitê de apelação da Fifa descreve três acusações de corrupção: receber propinas para facilitar a concessão dos contratos da Copa Libertadores, Copa América e Copa do Brasil. Empresas de direitos esportivos como TyC, Full Play, Traffic e Klefer obtiveram direitos sobre essas competições em troca de pagamentos aos cartolas. As empresas não são nomeadas na sentença, mas seu envolvimento é conhecido pelos documentos da Justiça dos EUA.

No documento da Fifa, Del Nero apelava contra sua primeira condenação alegando erros processuais e não haver evidência de que tivesse recebido dinheiro. Ao julgar o caso, o comitê de apelação da Fifa, no entanto, concluiu que o dirigente recebeu US$ 15,2 milhões em propinas. Por isso, manteve a condenação por cinco artigos do código de ética, incluindo corrupção e receber propina.

Entre os casos detalhados, está a propina paga pelos direitos de marketing da Copa do Brasil. De acordo com a sentença da Fifa, há documentos obtidos no cofre de uma empresa com provas dos pagamentos. A empresa que sofreu buscas policiais no Brasil e detém os direitos do campeonato é a Klefer.

A novidade é que parte do pagamento se deu em dinheiro vivo, segundo o documento da federação internacional. O relato não especifica quem recebeu em cash. Eram R$ 2 milhões para serem divididos entre os dirigentes Del Nero, Ricardo Teixeira e José Maria Marin. De acordo com o documento da entidade, notas escritas e e.mails com recibos obtidos no cofre e nos computadores da empresa são prova suficiente de que houve os pagamentos de subornos. Diz o texto da sentença:

"Em 1o de abril de 2014, (L) um empregado da companha 13 enviou e.mail para (K) com o título: "Relevantes pagamentos da Copa América", com anexos recibos de pagamentos de R$ 2 milhões. Mais particularmente, os seguintes três pagamentos foram feitos: R$ 200 mil em dinheiro vivo, US$ 500 mil pela companhia 13 para a companhia 14, uma produtora de iate de luxo e R$ 800 mil da companhia 13 para a companhia 5, pertencente ao grupo de (F), ou seu grupo, respectivamente".

Outros esquemas relatados pelo documento da Fifa são de subornos pela Libertadores e da Copa América, todos também fruto da investigação dos EUA. Esses, segundo a sentença da federação internacional, se deram por meio de empresas de um amigo de Del Nero que tem negócios com a CBF. No caso, trata-se de Wagner Abrahão, dono do Grupo Águia, que, na Justiça dos EUA, foi apontado como intermediário dos subornos para Marin.

Na apelação, Del Nero nega ter recebido qualquer propina. "Primeiro, Del Nero defende que como vice-presidente da CBF (2012-2015) ele não tinha poder de assinar nenhum acordo em nome da CBF ou alcançar um acordo financeiro com terceiras partes", diz a sentença da apelação. Segundo a versão de Del Nero, só Marin tinha esse poder. Por isso, sua defesa considera um "erro crasso" atribuir fatos da gestão da CBF a ele, Del Nero.

E sua defesa alega que, apesar de ser amigo de Abrahão, "isso não pode ser maliciosamente construído que que Del Nero requisitou em qualquer tempo ou recebeu um pagamento ilegal dele". Em seguida, ele nega ter recebido qualquer propina nesses casos e afirma que "não há evidência que demonstre que ele recebeu qualquer dinheiro em suas contas bancárias."

Procurado pelo blog, o advogado de Del Nero no caso, Marcos Motta, afirmou que não poderia falar sobre o assunto porque ainda está pendente um recurso no CAS (tribunal arbitral do esporte) contra essa apelação da Fifa. Há a expectativa de que o caso seja julgado apenas em 2020.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.