Vasco lembra ao Flamengo que é um digno rival no Rio
Em termos de pontuação e de desempenho, o Flamengo tem feito um campeonato fora do patamar dos outros três grandes times do Rio. Tanto que marcou 14 em 18 pontos possíveis contra Botafogo, Fluminense e Vasco. Mas o time de Luxemburgo mostrou no Maracanã que o futebol vai além do pragmatismo quando se trata de rivalidades históricas e igualou o confronto com uma atuação corajosa e digna.
Foi talvez a partida mais elétrica deste Brasileiro com uma série de reviravoltas. Um gol com menos de um minuto do rubro-negro Everton Ribeiro parecia que selaria o destino da partida cedo, muito cedo. Foi no que acreditaram os jogadores do Flamengo, segundo seu próprio técnico Jorge Jesus que os viu administrar o resultado. Desfilaram certa soberba em campo, tocando a bola, jogando sem intensidade, que é uma das principais qualidades do time nesta arrancada.
Em contrapartida, o Vasco era um time extremamente ligado e concentrado no jogo. Luxemburgo armou um meio de campo em linha com quatro jogadores com Marcos Junior e Raul bloqueando o jogo dos laterais rubro-negros, e Guarín e Richard pelo meio. La na frente, Rossi e Marrony formavam uma dupla de ataque, que, na explicação de Luxa, tinha o objetivo de atrapalhar a saída em linha de três do Flamengo (com Arão e zagueiros) e ao mesmo explorar os espaços nas laterais quando tivesse a bola.
Neste modelo, o Vasco foi melhor praticamente o primeiro tempo inteiro. Seu primeiro gol é um contra-ataque bem construído saído de roubada de bola na defesa e que passa todo por Marrony. Ele arranca e depois aparece para concluir a gol. Pouco depois, pelo outro lado, Pikachu entrou driblando para o meio e sofreu o pênalti da virada.
Méritos do Vasco e falhas seguidas da defesa rubro-negra. Rodrigo Caio e Pablo Marí viveram uma noite pavorosa em que erravam constantemente o posicionamento na linha defensiva que se transformou em uma zona. Houve erros inclusive por excesso de voluntarismo, ou de vontade de protagonismo, como quando Rodrigo Caio tentou invadir a área rival driblando no primeiro gol do Vasco, deixando buraco atrás. O gol de empate rubro-negro é casual em cochilo da defesa vascaína, que cometeu dois erros e tomou dois gols.
A história do segundo tempo foi diferente no aspecto ofensivo do Flamengo. É certo que Marcos Junior pôde fazer o terceiro gol quase como um beduíno no deserto de tão só. Dito isso, o jogo depois do intervalo foi rubro-negro especialmente pela entrada de Arrascaeta. O time tornou-se mais envolvente, voltou a girar as posições e a justeza na marcação vascaína foi se perdendo. Jesus acertou alguns posicionamentos para evitar a armadilha de Luxemburgo e seu time passou a sofrer menos apesar do novo gol sofrido.
Sem ser intenso como no primeiro tempo, o meio cruzmaltino viu Bruno Henrique atropelar o time até a área para empatar o jogo, e depois estufar a rede para virar em jogada de Vitinho. O atacante, diga-se, tornou-se um anotador recorrente de gols em clássicos, reafirmando sua temporada absolutamente decisiva pelo Flamengo. Os dois lances são de execução técnica complicada, mostrando como é iluminada sua fase.
Já não parecia haver força física no Vasco para empatar. Mas havia, sim, uma bravura de mostrar que apesar dos perrengues do ano era, sim, o velho rival eterno do Flamengo. Quem personificou essa valentia foi Ribamar que o próprio Luxemburgo definiu como "um guerreiro, trombador". Pois ele ganhou a trombada contra Rodrigo Caio e Diego Alves para empatar.
"Nós brigamos por dignidade, por respeito, pela camisa", disses Luxemburgo. Já Bruno Henrique lembrou que o Flamengo briga por título e está em "outro patamar". Ambos têm certa razão no que dizem, embora a fala do rubro-negro possa soar arrogante. Fato é que, pelo menos na noite desta quarta, o Vasco se agigantou para se colocar no patamar que não é seu nos últimos anos, mas lhe é de direito por sua história. E lembrou ao Flamengo que tem um rival digno na cidade.
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