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Rodrigo Mattos

Tite precisa sair da sua bolha para perceber o tédio que impõe ao torcedor

rodrigomattos

16/11/2019 04h00

Nos 45min iniciais do jogo diante da Argentina, o Brasil teve uma chance de gol real no pênalti sofrido e perdido por Gabriel Jesus. De resto, girava a bola sem nenhuma objetividade. Ao final da partida, o técnico Tite classificou este tempo como "bom" pelo domínio mesmo reconhecendo que não foram criadas chances de gol.

Enquanto o Campeonato Brasileiro tem novidades agradáveis nos trabalhos de Jorge Jesus e Jorge Sampaoli, Tite parece pegar daqui as referências que não funcionam. O Brasil chegou a ter quase 70% de posse de bola diante da Argentina sem nenhuma produtividade. Neste aspecto, parecia um time de Fernando Diniz nos seus piores dias. É um sistema que saiu absolutamente derrotado na Copa-2018 com a Espanha.

E por que isso ocorreu? Ora, o Brasil tinha a bola e nenhuma variação de movimentação para quebrar as linhas de marcação da Argentina. Casemiro continuava fixo à frente da zaga, Arthur tentava solitariamente trocar passes e Paquetá esteve sumido. Ao lado deles, dois laterais de força física que pouco acrescentam à construção de jogo. Nenhuma associação de jogo coletivo no meio.

Neste modelo, não havia viradas de jogo, não havia passes entre as duas linhas surpreendentes, não havia trocas rápidas de posições, nada de jogadas ensaiadas. O Brasil só criava chance de gol quando marcava pressão e roubava a bola para pegar a Argentina mais aberta. Esse, aliás, foi o único ponto positivo do time, a marcação mais avançada.

A Argentina não era nada demais. Mas era um pouquinho melhor do que foi na Copa América, bem arrumada em duas linhas de quatro, com a inventividade de Messi auxiliada por Lautaro Martinez e outros coadjuvantes. Era o suficiente para bater esse Brasil pobríssimo que criou duas chances de gol em 45min.

Era preciso mudar, remexer, revisar. E aí Tite colocou Fabinho, em ótima fase no Liverpool, ao lado de Casemiro. Sério? Dois volantes quase alinhados para tornar o time mais inventivo? Será que Tite terá um infarto se testar o time sem Casemiro? Coutinho entrou no lugar de Paquetá e só mostrou mais individualidade porque seguiu tão perdido no meio do Brasil quanto o anterior. O problema é mais do coletivo, o jogo brasileiro reduz o rendimento individual de cada um.

Em meio a essa pasmaceira, Tite se vira para o banco para conversar com Matheus Bachi, seu auxiliar e filho, em cena mostrada na TV. Com todo respeito, o que o filho de Tite pode acrescentar de ideia nova para esse time se basicamente trabalhou ao lado do pai em sua carreira? Como uma comissão técnica de amigos e um parente vai tirar o técnico da zona de conforto?

E seguiam as trocas com a entrada de talentos como Rodrygo e Richarlison. Mas a rotina era igual: a posse de bola inútil, um bilhareco aqui e outro ali. Um jogo digno de um estádio chinfrim de 20 mil lugares na Arábia Saudita. O sentimento imposto ao torcedor à frente da TV – não o sistema de jogo que é totalmente diferente – lembrava os piores momentos do Corinthians de Fábio Carille com seu estilo de jogo "não acontece nada". Já passou da hora de Tite sair da bolha de sua comissão técnica e buscar algo de novo ou a Globo tratará de reviver a sessão da tarde para não nos matar de tédio.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.