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Rodrigo Mattos

Flamengo tem fome de glória diante de um River bem alimentado

rodrigomattos

23/11/2019 04h00

Qualquer análise técnica sobre Flamengo e River Plate vai chegar à conclusão que há um certo equilíbrio, talvez com a constatação que o time carioca tem mais recursos técnicos e os argentinos, um trabalho mais consolidado. E, a partir daí, há a óbvia observação de que a equipe portenha é bem mais experiente em finais tendo ganho duas Libertadores nos últimos. O que pouco se fala é o fator fome: o Flamengo tem a ânsia da glória diante de uma série de agruras recentes.

Imagine a sala de espera de um restaurante, ou a fila para pegar a quentinha do dia que está acabando. O River é aquele sujeito que já comeu entradas, um joelho ou um lanche. Está ali meio de barriga cheia, esperando para beliscar. O Flamengo comeu um café da manhã às 7 horas da manhã, passou o dia inteiro ralando e agora tem a chance de jantar. Tente tirar esse sujeito da fila.

O título ou final da Libertadores não vem há 38 anos. O taça nacional provavelmente se concretizará agora depois de 10 anos. Neste milênio, foram duas Copas do Brasil e um Brasileiro de conquistas relevantes, pouco para o tamanho do clube.

A torcida esperou pacientemente pela reestruturação financeira, pelas trocas de técnico, pelos fracassos de jogadores laureados em outros clubes. Agora, que tudo se encaixou, a sensação é de que chegou a hora da recompensa. Milhares de pessoas foram às ruas do Rio de Janeiro por acreditar firmemente que estamos na colheita. O maitrê levantou o dedo indicando que a mesa está pronta, a van das quentinhas avisou que tem mais uma embalagem sobrando.

É óbvio que isso pode significar uma ansiedade excessiva no time rubro-negro, e isso afeta o desempenho técnico. O próprio Jorge Jesus defende que jogadores não devem se prender a esse tipo de responsabilidade porque afeta o desfrutar com prazer do jogo, essencial ao bom futebol. Ele tem razão neste aspecto: deve se jogar uma final também como um outra partida qualquer.

Mas a fome rubro-negra pode ser, sim, uma vantagem para o Flamengo. Pois o próprio Marcelo Gallardo reconhece que não é fácil bater o rival Boca Juniors em uma final e ter força para chegar de novo a final da Libertadores no ano seguinte. E, se ressalta que os jogos são bem diferentes, é meio óbvio que o River já ganhou em 2018 a taça que mais lhe importava diante do grande rival. O River será o River seguro, experiente, gigante da América, mas não será um time com fome.

Para além de todas as qualidades que o time de Jesus tem, o Flamengo terá um aliado poderoso ao seu lado no Monumental Universitario se souber administra-la: será a sua fome.

 

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.