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Rodrigo Mattos

Como o Flamengo ganhou R$ 3 bi em cinco anos para montar times caros

rodrigomattos

04/01/2020 04h00

Iniciada a temporada de 2020, o Flamengo se apresenta como o time com maior poderio para contratações no cenário do futebol brasileiro pelo segundo ano seguindo. Há um certo descolamento em relação ao Palmeiras com quem vinha rivalizando na última temporada. A explicação para a capacidade de investimento é um crescimento constante em quase todas as fontes de receita que levou a uma arrecadação de cerca de R$ 3 bilhões em cinco anos.

Em 2015, o Flamengo já tinha renegociado suas dívidas e pagava em dia após dois anos de reestruturação. Conseguiu um aumento de receita – tanto que contratou Guerrero, do Corinthians, naquela temporada -, mas ainda estava longe de atingir seu potencial de arrecadação – ganhou R$ 356 milhões naquele ano.

No início de 2016, a diretoria do clube aproveitou-se da concorrência entre a Turner e a Globo para assinar um contrato mais vantajoso de televisão em relação ao pay-per-view e luvas. Foi um total de R$ 120 milhões de luvas parceladas, e uma garantia de mínimo de Pay-per-view a partir de 2019. Em termos de contratos de TV Aberta e Fechada, o acordo é igual ao de outros clubes, com variações por posição na tabela e por exibição.  As rendas de televisão superam R$ 200 milhões por ano.

Essa era, no entanto, uma base garantida para o clube. Era preciso bem mais do que isso para atingir o patamar atual até porque o Corinthians, por exemplo tem contrato similar. Para se ter ideia, as receitas de televisão e premiações com Libertadores e Copa do Brasil representaram 40% do total ganho pelo clube neste período de cinco anos. E esse número é inflado pelas premiações desse ano com o título continental. Ou seja, se tivesse se limitado a um bom contrato de TV, o Flamengo não teria muito mais dinheiro do que os outros.

Em relação a premiações, o clube tem participado com frequência da Libertadores, o que lhe garante cota da fase de grupos de US$ 3 milhões por ano. E costuma avançar até fases mais agudas da Copa do Brasil e venceu o Carioca também na temporada.

Uma chave foi o investimento forte na divisão de base feito com construções de CTs e até contratações de jogadores. Com isso, o clube passou a revelar jogadores de primeira linha, como Vinicius Jr, Paqueta, Jean Lucas, entre outros. Com as contas em dia, a diretoria poderia lutar pelas melhores ofertas. Em cinco anos, o Flamengo arrecadou R$ 568 milhões em vendas de direitos federativos, o que significa 19% do total.

E isso tem sido crescente. Em 2015 e 2016, foram modestos R$ 23 milhões nas duas temporadas juntas. No ano passado, foram R$ 298 milhões, turbinados por Paquetá, Jean Lucas e Léo Duarte. Para a temporada de 2020, já há a perspectiva da negociação de Reinier para o Real Madrid.

Simplesmente apostar em negociações, no entanto, também não seria suficiente pois é preciso ter receitas recorrentes significativas para pagar salários. E, neste caso, os maiores destaques são as receitas de estádio com bilheteria e Sócio-torcedor, ambos mais do que dobraram. Para se ter ideia, em 2015, o clube arrecadava R$ 74 milhões com esses dois itens. Em 2019, o total obtido foi de R$ 162 milhões, ou seja, um acréscimo de quase R$ 90 milhões. Em cinco anos, foram R$ 500 milhões com os dois itens.

Em meio à crise da economia brasileira, o Flamengo não teve grande crescimento de patrocínio no período. Manteve-se no patamar próximo de R$ 90 milhões por ano. É, no entanto, a terceira fonte de receita se consideramos bilheteria e sócio-torcedor em separado. Há ainda receitas sociais e de esporte amador na casa de R$ 50 milhões por ano.

No total, o Flamengo arrecadou R$ 2,980 bilhões em cinco anos considerados os valores estimados para 2019.

Para 2020, a estimativa do clube é de aumento das receitas de 16%, atingindo um valor acima de R$ 700 milhões. Obviamente, não prevê repetir a renda recorde de venda de atletas, nem ganhar a Libertadores. Incluiu no orçamento, no entanto, metas ousadas como a semifinal da Libertadores, o que pode gerar uma receita menor do que a prevista. Mas, se a venda de Reinier se concretizar, a meta de negociações de jogadores já terá sido superada por larga margem. É por isso que clube tem constantemente tido dinheiro para reinvestir em seu time.

*O clube publicou um documento estimando a receita de 2019 em R$ 857 milhões no melhor cenário. Mas, feito antes da final em Lima, essa previsão não incluía os prêmios de campeão da Libertadores e de vice do Mundial. Somados esses dois valores, o montante vai para R$ 922 milhões, número que foi considerado aqui.

 

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.