Petrobras pagou R$ 19 mi à Traffic por direitos obtidos com propina
rodrigomattos
18/09/2015 06h00
A Petrobras pagou R$ 19,2 milhões para a Traffic para patrocinar a Copa do Brasil, de 2011 a 2014, e a Copa América-2011. A agência de marketing já admitiu à Justiça dos EUA que pagou propina para obter os contratos dos direitos sobre esses campeonatos. Ou seja, dinheiro público serviu para abastecer o esquema de corrupção descoberto no caso Fifa ainda que a estatal não soubesse.
A Traffic tinha os direitos de televisão, placas publicitárias e outras propriedades comerciais da Copa do Brasil e da Copa América desde o final da década de 80 e início de 90. Em depoimento ao Departamento de Justiça dos EUA, o dono da empresa José Hawilla admitiu ter pago subornos para ex-presidentes da CBF como José Maria Marin e Ricardo Teixeira (não citado no inquérito) e dirigentes da Conmebol por esses contratos.
Pelo acordo da Copa do Brasil, ele pagou oficialmente R$ 55 milhões para a CBF por seis anos, de 2009 a 2014, isto é, R$ 9 milhões por ano, além dos subornos. Com os direitos na mão, a Traffic vendeu placas publicitárias para a Petrobras para 2011 por R$ 3,099 milhões, em contrato assinado no final de 2010.
Logo depois, em abril de 2011, a Petrobras assinou novo acordo com a Traffic no valor de R$ 3,5 milhões pelo patrocínio da Copa América-2011, na Argentina. Por esse torneio, a agência de marketing pagou propinas ao então presidente da Conmebol Nicolás Leoz, e a membros do conselho da entidade.
Ao final de 2011, a estatal de petróleo estendeu seu contrato em relação à Copa do Brasil, fechando por mais três anos. Desta vez, foram R$ 12,6 milhões por três anos, o que significava cerca de R$ 4 milhões por ano. Ou seja, só o acordo da Petrobras bancava quase metade do que a agência tinha gasto com os direitos.
A assessoria da Petrobras informou que foi a CBF que indicou que a negociação fosse feita com a Traffic nos três contratos: "A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) atestou à Petrobras que esta empresa detinha os direitos de exclusividade de comercialização das cotas de patrocínio para os eventos. Todas as obrigações contratuais foram cumpridas por parte da Traffic. A Petrobras efetuou os pagamentos devidos nos prazos estabelecidos nos contratos."
Assim, foi pago um total de R$ 19,2 milhões pela Petrobras à Traffic. Não foi feita licitação para nenhum dos três contratos baseado no decreto 274 que libera a concorrência nos casos de patrocínio ou de fornacedor único: "Não há obrigação legal de se efetuar um processo de licitação, pois não é possível haver competição por critérios objetivos", disse a asessoria da estatal.
Segundo a Petrobras, o objetivo foi ter ganho de imagem institucional para seus produtos. Não há por parte da estatal nenhum indício de corrupção na contratação, e a petroleira não respondeu se abriu inquérito para investigar o caso após saber da corrupção nos contratos. A assessoria da Traffic não quis se pronunciar. Outros nove patrocinadores assinaram acordos com agência de marketing para a Copa do Brasil, todos privados.
Sobre o Autor
Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.
Sobre o Blog
O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.