Perdida, CBF pode jogar clubes nos braços da revolução que nem buscavam
rodrigomattos
26/01/2016 05h00
Na manhã de segunda-feira, o presidente da CBF, Coronel Nunes, prometia ao presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, que mandaria um representante ao jogo de estreia da Primeira Liga. À tarde, no mesmo dia, o dirigente assinava uma resolução que proibia a realização da competição. As duas atitudes mostram como a CBF está perdida ao lidar com a questão da liga.
"Me encontrei com ele na final da Copa São Paulo. Convidei o para o jogo da Liga e ele disse que não poderia porque estaria em Assunção. Prometeu mandar um representante", contou Bandeira de Mello.
É mais uma das idas e vindas da CBF ao tratar da Primeira Liga. De início, a confederação tentou ignorar porque não era um torneio oficial. Quando a competição estava pronta, quis negociar e quase o aprovou. Foi pressionada pela Ferj (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro) e ficou no muro. Não resistiu à federação e proibiu a liga com a resolução de Nunes.
Para toda ação, há uma reação. Ao criarem a Primeira Liga, os clubes só queriam realizar um torneio e ter maior autonomia sobre suas competições. Não havia discurso de confronto com a CBF. A entrada de Alexandre Kalil no campo chegou a causar uma ruptura porque ele não aceitou explicações enganosas da confederação. Mas, quando ele saiu, a confederação teve campo para negociar e autorizar a liga.
A questão é que a entidade vive um momento de fragilidade. Seu presidente eleito Marco Polo Del Nero teve que se licenciar pelas acusações de corrupção. Após troca-trocas, ficou Nunes e aliados de Del Nero. Assim, aumentam as chances de surtir efeito qualquer pressão da Ferj e de cartolas acostumados a defender o status quo como Rubens Lopes e Eurico Miranda.
A questão é que, ao ceder às demandas deles, a diretoria da CBF obriga os clubes a uma briga para realizar o torneio. As declarações dos cartolas dos times são cautelosas, mas não indicam retirada. Reafirmam a realização da primeira rodada da Liga, e a legalidade do restante do torneio. Na prática, terão de assumir um recuo gigantesco para desistir da liga. Não parece provável.
Ora, e se os clubes jogarem a Liga apesar da proibição da confederação, o que vai acontecer? A CBF vai punir metade dos times da Série A do Brasileiro? Terá coragem de sabotar o seu principal campeonato e enfurecer torcedores pelo país?
A resolução de diretoria da CBF pode ter jogado os clubes nos braços de uma revolução que nem era uma intenção tão clara na fundação da liga. E quem vai lidar com essa bomba é o Coronel Nunes, um homem que sequer sabe o que assinou.
Sobre o Autor
Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.
Sobre o Blog
O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.