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Fred e a geração de mimados do futebol brasileiro

rodrigomattos

11/04/2016 06h00

O episódio do embate entre Fred e o técnico Levir Culpi é mais um desses causados pelo excesso de mimo com que são tratados os jogadores no Brasil. Não se apresentou nenhum motivo real até agora para o jogador estar irritado com o técnico além de ter sido tirado em algumas partidas. Ainda assim, ele dá ultimatos, ameaça sair do clube, cria uma problema dentro do Fluminense.

Não é uma exceção. Pense nos principais jogadores da última grande geração brasileira da qual Fred faz parte. Adriano transformou sua vida em um caos por problemas psicológicos, Ronaldinho preferiu as festas a seguir em alto nível, e mesmo Ronaldo abreviou sua carreira pelos excessos, além de problemas físicos reais.

Abaixo dos outros três, embora seja um centroavante de bom nível, Fred não cometeu excessos físicos, mas ganhou áreas de dono do Fluminense pelos títulos conquistados e pela adoração da torcida. É legítimo que tenha status no clube. Não é legítimo que use desse seu prestígio para ter tratamento privilegiado em prejuízo do time.

A geração que sucede essa não é muito diferente. Na verdade, parecer até ter piorado. Não são poucos os técnicos que já mencionaram problemas de maturidade do jogador brasileiro, um estrelismo exacerbado em alguns casos. Há jovens que fazem meia dúzia de gols e já exigem o tratamento de craques consagrados. Querem salários astronômicos e lugar garantido no time.

Os clubes têm certa culpa neste processo por encher de mimos seus jovens, e minimizar suas responsabilidades. Uma consequência também da sua dependência da vontade do atleta para fechar um contrato. Aliado a isso, o staff de jogadores -composto por agente, namorada periguete, agregados de todos os tipos – vira a cabeça deles. Passam a se achar o centro do mundo.

Claro que o estrelismo também é visto outros campos, mas de forma bem reduzida, como exceção. Observe que mesmo os jogadores estrangeiros que atuam no Brasil, em sua grande maioria, têm um comportamento bem mais profissional do que os nossos. E, quando estão fora, os brasileiros também costumam melhorar sua atitude, ou não se adaptam e voltam.

Um técnico lúcido como Levir só diz o óbvio ao defender seu direito de trocar jogadores, e de manter limitado o poder de um jogador. Onde não há hierarquia para um atleta não há para mais nenhum. E o que se instala é uma anarquia com poucas chances de um trabalho bem-sucedido.

Fred é uma pessoa inteligente, e é bem capaz que perceba seus equívocos e recue na disputa com Levir. Melhor seria que todos os nossos dirigentes e técnicos notassem o crescimento desse comportamento mimado dos jogadores, e procurassem uma solução para o problema. Não será com birras infantis que sairemos do buraco onde nos metemos.

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Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.


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