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Entre sedes olímpicas, Rio tem violência só comparável a Atlanta

rodrigomattos

23/07/2016 06h00

Entre as cidades olímpicas, o Rio de Janeiro tem índices de violência só comparáveis a Atlanta que recebeu a edição de 1996. É o que mostra um levantamento feito pelo blog nas estatísticas criminais das seis últimas sedes no ano em que receberam os Jogos. Especialistas confirmam que as duas cidades destoam das outras, mas destacam que as piores zonas são longe das instalações olímpicas.

O município carioca tem um índice de homicídio de 24,1 por 100 mil habitantes, segundo dados da secretaria de segurança pública para 2015. Já a cidade norte-americana tinha um número ainda maior de 47,4 homicídios por 100 mil habitantes, em 1996, de acordo com dados do FBI (polícia federal). Sua população era bem inferior ao Rio atual, 413 mil contra 6,1 milhões.

Há, no entanto, algumas diferenças nas estatísticas das suas cidades. Atlanta incluía em seu dado homicídios dolosos e não dolosos (chamam de manslaughter). O Rio põe em um pacote os casos de letalidade violenta, em que estão homicídio doloso, mortes em confrontos policiais e por agressão. A taxa carioca de homicídio culposo – sem intenção – é de 7,6 por 100 mi habitantes em 2015.

Teoricamente, o município carioca seria menos letal do que Atlanta. Mas, por conta do critério diferente, especialistas entendem ser difícil fazer essa afirmação. De qualquer maneira, é certo que são números muito superiores a outras sedes que giram entre um e dois assassinatos por 100 mil pessoas.

"Sim, está certo (que são as mais violentas sedes). Mas tanto lá quanto aqui a violência está concentrada em determinados bairros que não são os que vão ter instalações dos Jogos. São situações parecidas. Além disso, haverá muito policiamento e quem vier não deve ser afetado", afirmou o professor da UERJ, José Inácio Cano, que atua no Laboratório de Análise de Violência.

A comparação com outras cidades olímpicas mostra uma disparidade. Sydney tinha 1,3 homicídios por 100 mil pessoas quando recebeu os Jogos. Para Atenas, o dado de 2005 – único disponível – aponta 1,4 assassinatos por 100 mil habitantes.

O governo chinês mantém obscuros os dados de Pequim, mas o país tinha um índice de 1,1 homicídios por 100 mil pessoas em 2008. Especialistas consideram que a capital não tinha grande variação. Sede de 2012, Londres também tinha uma estatística de 1,3 assassinatos por 100 mil habitantes. Não foi possível obter os dados discriminados para Barcelona-1992, mas o índice de homicídios na Espanha na época girava em torno de 1 por 100 mil habitantes.

Apesar das similaridades – violência concentrada em bairros e tráfico de drogas -, especialistas apontam também diferenças entre Rio e Atlanta.  A professora da USP, Esther Solano, que faz parte do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, entende que o município carioca pode ser mais violento por causa da polícia.

"Acho que nem Atlanta (iguala o Rio). A brutalidade da PM do Rio não tem paralelo no mundo. O índice do governo estadual nem sempre inclui esses dados da morte por policiais e de que quando eles são vítimas. E são dados significativos. Por isso, acho que pode ultrapassar a letalidade de Atlanta", explicou Solano.

Na comparação em outros índices de violência, o Rio tem um total de 1.453 casos de roubo por 100 mil pessoas, considerados todos os tipos em 2015. Em Atlanta, esse número era de 1.163 em 1996, também bem alto. Mas, em compensação, os casos de estupro são de 24 por 100 mil habitantes no município brasileiro, enquanto atingiam um total de 95 na cidade norte-americana.

Atlanta era uma passagem da rota do tráfico de drogas, servindo como rota para mercadoria que desembarca em Miami vinda do México e da América do Sul. Por isso, há um histórico de confrontos de gangues, principalmente em áreas mais pobres.."As cidades americanas enfrentaram um problema sério de violência durante a década de 90", completou Solano.

A cidade norte-americana foi a última sede olímpica onde houve um atentado terrorista que matou duas pessoas. José Inácio Cano, no entanto, não vê relação com os índices de violência da cidade. "Terrorismo sempre é um risco, assim como a criminalidade. Mas também não acho que nenhum dos dois vai comprometer os participantes dos Jogos (no Rio)."

 

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Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.


Rodrigo Mattos